Considerada o berço da democracia, da filosofia ocidental e das artes cênicas, a Grécia possui uma das maiores e mais importantes heranças culturais do mundo. Seus milhares de sítios arqueológicos e monumentos, além dos mais de 200 museus, contemplam criações arquitetônicas e artísticas que representam cinco mil anos de civilização. Esse patrimônio extraordinário, capaz de atrair em média 16 milhões de visitantes ao ano, no entanto, encontra-se ameaçado. Por causa da crise econômica que assola a Europa, e especialmente a Grécia, o governo grego cortou em 35% o orçamento para o Ministério da Cultura e Turismo, órgão responsável pela manutenção do espólio cultural do país. Como reflexo dessa medida, sítios arqueológicos e museus estão sofrendo com roubos, saques e explorações clandestinas, enquanto faltam profissionais para monitorar esses locais.
O alerta para a gravidade da situação foi dado pela Associação de Arqueólogos Gregos. Segundo eles, dois mil funcionários do Ministério da Cultura e do Turismo foram demitidos e os arqueólogos que trabalham para o Estado sofreram cortes salariais que vão de 10% a 40% no último ano. Novas escavações foram suspensas por falta de verbas, enquanto alguns dos principais pontos turísticos do país estão fechando mais cedo, às 15h, porque não há vigilantes noturnos em número suficiente. É o caso da famosa Acrópole e do Museu Arqueológico de Atenas. O déficit de mão de obra acaba por facilitar a ação de ladrões, que estão saqueando sítios arqueológicos em busca de tesouros – um negócio lucrativo em tempos de crise – ou roubando o acervo de consagrados museus. Em fevereiro, o Museu de Olímpia, cidade onde nasceram os Jogos Olímpicos, teve algumas cerâmicas e peças de bronze roubadas. No mês anterior, quadros de Picasso (1881-1973) e Mondrian (1872-1944) foram levados da Galeria Nacional de Atenas, enquanto os funcionários do local faziam greve por melhores salários.
O problema estrutural, que coloca em risco a herança helênica, também prejudica a pesquisa de arqueólogos brasileiros que atuam no país. “Muitos de nós precisam ter acesso a sítios arqueológicos menos conhecidos, mas neste momento de crise eles estão fechados por falta de pessoal que cuide da área”, diz Lilian de Angelo Laky, doutoranda em arqueologia grega pela Universidade de São Paulo (USP). “A saída para essa crise são os investimentos estrangeiros que, ao menos desde o final do século XIX, vêm sendo aplicados em pesquisas sobre o passado grego.”
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