sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Você sabia ? - O homem que amava as mulheres

Escritor enaltecia todas as mulheres | Foto: André Hippert / Agência O Dia

Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores...’ Os versos são do sambista Martinho da Vila, mas bem que poderiam se tratar do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Ou melhor: de sua obra. No centenário do artista, nascido em 23 de agosto de 1912, listamos alguns dos tipos femininos mais frequentes em sua obra: a adúltera, a santa do pau oco, a prostituta boazinha, a incestuosa e a recalcada.

Autor da biografia de Nelson, ‘O Anjo Pornográfico’, o escritor e jornalista Ruy Castro garante não saber apontar qual tipo o autor preferiu retratar. “Acho que ele tinha grande paixão e compaixão por todas as mulheres de sua obra e da vida real”, define Ruy.
A professora e dramaturgista Ângela Leite Lopes, autora do livro ‘Nelson Rodrigues: Trágico, Então Moderno’, identifica uma característica comum às mulheres de Nelson. “São sempre personagens que tomam as rédeas de seus destinos. Vão à luta”, analisa.
Embora com perfis dos mais diversos, uma personagem frequente nos textos rodrigueanos é a mulher que trai. “Não foi o Nelson quem inventou a adúltera — mas talvez nenhum escritor tenha procurado entendê-la mais do que ele. Em certos casos, para Nelson, o adultério era uma vingança contra a falta de amor. Ou, como dizia ele, ‘algumas mulheres precisam trair para não apodrecer’”, diz Ruy Castro.
Para Ângela Leite Lopes, a paixão pelo tema adultério também tem razões artísticas. “Quem trabalha com teatro quer experimentar situações-limite. Adultérios, incestos, situações de trangressão”, enumera ela.
A atriz Juliana Didone, em cartaz na peça ‘Decote’ — com texto de Nelson e direção de Daniel Herz e Susanna Kruger, e que se despede amanhã, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema —, acredita que Nelson falava das profundezas das almas. “Vontades que as pessoas tinham e não falavam. Claro que ele dava pinceladas mais fortes. Mas acredito que ele estava lançando perguntas para a sociedade”, analisa Juliana.
Psicanalista e colunista da revista ‘Já É!’, Regina Navarro Lins concorda: “Nas décadas de 40 e 50, assuntos como adultério e virgindade eram tabus. Eram tempos de muita repressão sexual. Todo mundo era muito preocupado com a imagem, ‘O que os outros vão pensar?’. Nas peças, ele diz coisas das quais não se falava”.
A Adúltera
É muito recorrente na obra do dramaturgo. A Engraçadinha de ‘Asfalto Selvagem’ e a Solange de ‘A Dama do Lotação’ são algumas de uma extensa galeria.

A Santa do pau oco
Parece pura e ingênua, mas não é nada disso. Como a Silene de ‘Os Sete Gatinhos’ e a Maria Cecília de ‘Bonitinha, Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende’.

A Prostituta boazinha
Ela se sacrificou pelo filho, como a personagem- título de ‘Dorotéia’, ou pelas irmãs, tal qual a Ritinha de ‘Bonitinha,
mas Ordinária ou Otto Lara Rezende’.

A Incestuosa
‘Álbum de Família’ conta com duas mulheres incestuosas: Glória, que é apaixonada pelo pai, e Dona Senhorinha, a mãe, que deseja o filho Nonô. A Moema de ‘Senhora dos Afogados’ é outro exemplo.

A Recalcada
As primas da personagem principal da peça ‘Dorotéia’, a Dóris de ‘Núpcias de Fogo’ e a Rosinha da crônica ‘Marido Fiel’ estão entre as personagens que se encaixam no tipo. 

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