sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Resenhando - 1984

O maravilhoso escritor inglês George Orwell, falecido em 1950, até hoje é o meu favorito e tem lugar de destaque na minha estante. Desencantado com o socialismo, especialmente com sua faceta stalinista, causa que abraçara para melhor lutar contra o nazi-fascismo, dedicou os últimos anos de vida a denunciar o comunismo stalinista.
Para tanto publicou dois livros, nos anos de 1945 e 1949, ambos com impressionante projeção, e que fizeram por acirrar ainda mais o feroz debate ideológico entre comunistas e democratas que dividiu o mundo intelectual na época da guerra fria. E como tantos outros intelectuais da sua geração, a crise dos anos 30, seguida da espantosa ascensão do nazi-fascismo, quando ditadores como Hitler, Mussolini e Franco, passaram a servir de exemplo e inspiração para tantos outros candidatos à tirania, Orwell inclinou-se pela resistência a eles. Acho que se ele estivesse vivo hoje ou estaria frustrado, como eu, ou estaria louco.
Nunca, entretanto, foi um militante comunista. Considerava-se um independente, um anarquista, um companheiro de viagem da “causa”. Mas que “causa”? Talvez a verdadeira e única que o Orwell teve foi a literatura. E assim o foi. Em dezembro de 1936, por exemplo, ele, como tantos outros estrangeiros, apresentou-se como voluntário para deter o golpe direitista do general Franco, na Espanha.
E o caldo fedeu de vez quando, ainda que ferido na garganta quanto lutava ao lado dos milicianos de esquerda, em maio de 1937, ele foi, justamente por não ser um enquadrado, considerado um “fora-da-lei” pelos f.d.p dos comunistas espanhóis alinhados a Moscou.
Mas falando em literatura, os seus dois livros de impressionante sucesso foram “A Revolução dos Bichos”, e o outro simplesmente tinha um número na capa, o “Nineteen Eigthy Four” ("1984"), no qual apareceu pela primeira vez o onipresente “Big Brother”, o Grande Irmão, que vira e meche eu vivo escrevendo .

O livro é maravilhoso. Publicada originalmente em 1949, a distopia futurista “1984” é um dos romances mais influentes do século XX, um inquestionável clássico moderno. Lançada poucos meses antes da morte do autor, é uma obra magistral que ainda se impõe como poderosa reflexão ficcional sobre a essência nefasta de qualquer forma de poder totalitário.
A história se passa no "futuro" ano de 1984 na Inglaterra, ou Pista de Pouso Número 1, parte integrante do megabloco da Oceania. O megabloco imaginado por Orwell tem este nome por ser uma congregação de países de todos os oceanos. A união da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Reino Unido, Sul da África e Austrália não parece estar tão distant
e da realidade.
Narrado em terceira pessoa, o livro conta a história de Winston Smith (*lembrei do agente Smith, o vilão da série “Matrix”), membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade, que tem a função de reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido.
Nada muito diferente de um jornalista ou um historiador nos dias de hoje. Mas Smith passa a questiona a opressão que o Partido exercia nos cidadãos. Se alguém pensasse diferente, cometia “crimideia” (*crime de ideia em novilíngua) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e era vaporizado. Desaparecia. Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume a apenas criticar o stalinismo e o nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em peça para servir ao estado ou ao mercado através do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma.
Smith representa o cidadão-comum vigiado pelas “teletelas” e pelas diretrizes do Partido. Orwell escolhera este nome na soma da 'homenagem' ao primeiro-ministro Winston Churchill com o uso do sobrenome mais comum na Inglaterra. A obra-prima foi escrita no ano de 1948 e seu título invertido para 1984 por pressão dos editores. A intenção de Orwell era descrever um futuro baseado nos absurdos do presente. Não vou contar mais nada desse livro. E pra você que “come” livros e ainda não conhece “1984”, prepare-se e devore o livro inteiro! Maravilhoso! (“1984” de George Orwell, romance, 416 págs, Companhia das Letras -1982).

http://comendolivros.blogspot.com.br/2010/03/1984.html

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