Maria Fernanda Delmas, O Globo
Nem vale entrar na análise da associação torta feita pelo deputado Marco Feliciano entre feminismo e condução a uma sociedade homossexual, porque, se já há preconceito ao tratar cada um dos temas, existe uma absoluta falta de lógica ao juntar as duas coisas. Quero apenas contar cinco segredinhos que talvez o senhor presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados não saiba.
O primeiro: o que os filhos, netos, pais, irmãos e cônjuges de mulheres que trabalham costumam sentir não é que a família está se esfacelando. É orgulho. Na entrevista para o livro “Religiões e política; uma análise da atuação dos parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e LGBTs no Brasil”, que O GLOBO revelou ontem, Feliciano diz que quando uma mulher é estimulada a trabalhar “sua parcela como mãe começa a ficar anulada”.
Sou filha, neta e nora de mulheres que passaram a vida trabalhando e, por incrível que pareça ao senhor, não precisei passar um minuto sequer no divã por causa disso. Arrisco dizer que minha filha também não o fará.
O segundo talvez seja meio duro de aguentar: embora sua afirmação tenha soado como ofensa particularmente a um grupo de mulheres que labutam de sol a sol para não ver os filhos passarem fome ou para garantir que eles estudem, não trabalhamos apenas para botar arroz e feijão na mesa. Trabalhamos também por... prazer!
O que leva ao terceiro segredo: mães são melhores quando se sentem realizadas. Seja cuidando apenas da família, seja trabalhando fora também, seja em voo solo porque a relação não deu certo, seja ao lado de um homem ou de outra mulher.
Ainda bem que, a cada pérola, sua voz é cada vez menos levada a sério. Fosse mais retumbante e corria-se o risco de jogar por terra muitas das conquistas da sociedade. Já avançamos bastante, mas ainda há muito a fazer.
Por exemplo, as mulheres que trabalham fora gastam 22 horas e 13 minutos por semana nos afazeres domésticos, enquanto os homens despendem dez horas e oito minutos, mostrou a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.
Apesar de já ter havido redução na desigualdade, as mulheres ainda ganham, em média, 70,4% do salário dos homens. Mas, em uma década, o número de lares chefiados por mulheres saltou de 22,2% para 37,3%, diz o Censo 2010. O quarto segredo: sem as mulheres trabalhadoras, este país não anda.
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