Um enorme esforço internacional, envolvendo mais de 100 instituições e testes genéticos em 200.000 pessoas, descobriu dezenas de marcadores no DNA que podem ajudar a revelar ainda mais o risco de uma pessoa para desenvolver câncer de ovário, mama ou próstata.
Trata-se da mais recente megaoperação conjunta entre cientistas para aprender mais sobre os intrincados mecanismos que levam ao câncer. Enquanto o progresso parece significativo em muitos aspectos, a recompensa potencial para as pessoas comuns é principalmente esta: no futuro, testes genéticos poderão ajudar a identificar quais mulheres se beneficiam mais fazendo a mamografia periódica e quais homens poderiam se beneficiar mais dos testes de PSA e das biópsias da próstata. Talvez, num futuro ainda distante, essas pistas genéticas também possam levar a novos tratamentos contra a doença.
Isso acrescenta mais peças ao quebra-cabeça”, afirmou Harpal Kumar, presidente-executivo da Cancer Research UK, o fundo que financiou grande parte da pesquisa.
Entre os homens cuja história familiar lhes dá cerca de 20% de risco de ter câncer de próstata, os novos marcadores genéticos poderiam identificar aqueles cujo verdadeiro risco de ter a doença é de 60%.
Os novos marcadores também podem fazer a diferença para as mulheres com mutações do gene BRCA – tê-los, coloca a mulher em risco elevado para câncer de mama. Nestes casos, os pesquisadores podem, no futuro, ser capazes de separar aquelas cujo risco excede 80% das mulheres com risco mais baixo, entre 20% e 50%. Com essa precisão, algumas mulheres podem escolher monitorar a própria saúde com exames periódicos em vez de tomar a medida drástica de ter os seios saudáveis removidos para evitar o surgimento da doença.
Especialistas que não participaram do estudo afirmam que os resultados são encorajadores, mas que são necessárias mais pesquisas para ver como toda essa informação seria útil para orientar o atendimento ao paciente.
O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres em todo o mundo, com mais de 1 milhão de novos casos por ano. O câncer de próstata é o segundo câncer mais comum em homens, depois do câncer de pulmão, com cerca de 900 mil novos casos a cada ano. O câncer de ovário é responsável por cerca de 4% de todos os cânceres diagnosticados em mulheres, causando cerca de 225.000 casos em todo o mundo.
Os novos resultados foram divulgados em 13 trabalhos publicados nas revistas científicas Nature Genetics e Genetics PLOS, entre outras. Eles vêm de uma colaboração que envolve mais de 130 instituições nos Estados Unidos, Europa e outros lugares do globo. A pesquisa foi financiada pela Cancer Research UK, pela União Europeia e pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.
Os cientistas usaram exames de DNA de mais de 200.000 pessoas para procurar os marcadores, pequenas variações nas 3 bilhões de “letras” do código do DNA que estão associados com risco de doença. Foram descobertos 49 novos marcadores de risco para câncer de mama, mais um par de outros que modificam o risco de câncer de mama a partir de raros genes mutados, 26 marcadores de câncer de próstata e oito para o câncer de ovário.
Individualmente, cada marcador tem apenas um impacto pequeno na estimativa de risco, muito pequeno para ser útil por si só, disse Douglas Easton, da Universidade de Cambridge, da Inglaterra, um dos autores do estudo.
“Eles seriam combinados e adicionados a marcadores previamente conhecidos para ajudar a revelar risco de uma pessoa”, explicou ele.
* Por Malcolm Ritter
Jornal O Globo
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