domingo, 31 de março de 2013

Te Contei,não - Em busca de autoridade

 

Feliciano manda prender manifestante e restringe acesso a comissão; PSC ataca petistas

Evandro Éboli

Jailton de Carvalho


BRASÍLIA Na tentativa de se manter no comando da Comissão dos Direitos Humanos, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) mandou prender manifestante, trocou de plenário e esvaziou a sala, proibindo protestos no colegiado. Ao encerrar a primeira reunião da comissão que conseguiu presidir de fato, Feliciano disse que está ali graças às mãos de Deus. Ontem o dia foi de nova confusão, e, pela primeira vez, integrantes dos movimentos LGBT tentaram invadir o gabinete de Feliciano, sendo contidos pelos seguranças.
O primeiro tumulto começou quando a comissão ouvia o deputado estadual paulista Fernando Capez (PSDB) sobre a situação dos torcedores corintianos presos na Bolívia. O manifestante Marcelo Regis Oliveira, de um grupo LGBT de Brasília, protestava e disse que Capez estava sentado ao lado de um deputado racista, em referência a Feliciano. Imediatamente, o presidente da comissão determinou a seguranças que o retirassem da sala.
- Segurança, aquele rapaz de barba. Me chamou de racista. Racista é crime pelo Código Penal. Ele vai ter que provar isso e vai sair preso daqui - disse Feliciano, dando início à confusão generalizada.
O deputado, então, decidiu mudar de plenário e vetou a presença de manifestantes na audiência pública que tratou da contaminação por chumbo de parte da população de Santo Amaro da Purificação (BA), problema que teve origem na década de 1960. Antes de trocar de plenário, Feliciano enfrentou os manifestantes:
- Vocês não respeitam os direitos humanos. Isso aqui não é a casa da baderna. Não aceito pressão. Podem gritar, podem espernear. Deus é bom.
Grupos favoráveis e contrários a Feliciano se aglomeravam na porta do plenário. Os evangélicos cantavam músicas religiosas, enquanto os manifestantes do movimento LGBT protestavam contra o deputado, separados por seguranças da Câmara. Antes de iniciar a sessão, Feliciano recebeu os cinco convidados para a audiência, alguns representantes de ministérios.
- Vivemos um momento ímpar da democracia. Os senhores puderam constatar o nível de democracia aplicado por um segmento (LGBT). Eles nem param para nos ouvir e impedem nossa entrada. Agradeço o esforço e coragem de virem até aqui - afirmou Feliciano.
O deputado Nilmário Miranda (PT-MG) pediu a palavra antes dos convidados:
- A solução é uma só: a saída do Feliciano. Não sei qual seu objetivo. Fui contra sua presença desde o primeiro dia, desde que seu nome despontou como possível presidente.
líder do PSC diz que pt tem falso moralismo
Com o PSC e Feliciano irredutíveis, o clima esquentou entre parlamentares da legenda e do PT. Depois de ouvir críticas a Feliciano de dois deputados petistas no plenário, que condenaram a retirada do manifestante, o líder do PSC, André Moura (SE), em discurso, criticou o partido da presidente Dilma Rousseff por ter indicado dois condenados pelo mensalão - José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP) - para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
- O que me chama mais a atenção são os deputados do PT que vêm aqui criticar a Comissão de Direitos Humanos. Já que são tão moralistas, por que não serem moralistas, por exemplo, com a Comissão de Constituição e Justiça? Por que não pegar um espelho e olhar para si mesmo e perguntar: por que o PT indica para a CCJ dois mensaleiros condenados pela mais alta Corte deste país, o STF? - indagou André Moura.
Com toda a polêmica, Marco Feliciano diz acreditar ter dado à comissão uma visibilidade inédita. No final da audiência pública, ele se disse emocionado com o relato sobre o drama da contaminação de pessoas por chumbo em Santo Amaro. E aproveitou para atacar seus críticos.
- O senhor (porta-voz das famílias contaminadas) representa pessoas que nessa comissão não tiveram vez e voz. Se vocês ficassem gritando pelos corredores e se impedissem alguma sessão de funcionar (uma alusão aos manifestantes que o criticam), teriam sido atendidos - disse Feliciano, que completou: - Até ontem essa comissão era desconhecida. Talvez tenha sido a boa mão de Deus que nos colocou aqui, para mostrarmos as boas coisas. Com tantos deputados presentes (quatro ao todo) me sinto realizado. Quebramos uma barreira e demos uma lição - disse Feliciano.
Expulso da primeira reunião na comissão, um grupo de cerca de 50 manifestantes tentou, sem sucesso, invadir o gabinete do deputado Feliciano, em um dos prédios anexos da Câmara. Em meio aos protestos, o servidor público Alysson Prata, de 21 anos, foi detido e levado para uma sala da delegacia de polícia da Câmara. Prata, depois de prestar depoimento, fez exame de corpo de delito e disse que foi agredido por um segurança, que o teria agarrado pelo braço esquerdo enquanto negociava com o chefe da segurança para impedir a invasão do gabinete. O manifestante relatou que foi surpreendido pelos agentes. E um deles teria gritado:
- Prende esse veado - sustenta Prata.
A Polícia Legislativa informou que vai investigar a suposta calúnia contra Feliciano e apurar se houve abuso da segurança.
Na pressão pela renúncia, integrantes da ONG Avaaz, que faz campanhas virtuais, entregaram ontem à cúpula do PSC 455 mil assinaturas eletrônicas em apoio à petição que pede a saída de Feliciano da comissão. A Rede Fale, integrada por organizações evangélicas, entregou mais de 19 mil assinaturas virtuais e um documento assinado por 273 líderes evangélicos de todo Brasil com o mesmo pedido.


O Globo

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