quarta-feira, 20 de março de 2013

Te Contei, não ? - Saudações nazistas e racismo em trote

Imagens de universitários do curso de Direito da UFMG humilhando calouros causam revolta em redes sociais e levam universidade a abrir investigação

Juliana Dal Piva



Uma menina com tinta preta pintada no corpo carrega uma placa com o texto "Caloura Chica da Silva". Aparentemente constrangida, a garota aparece acorrentada e é puxada por outro colega, que sorri ao ser fotografado. Essa é uma das cenas ocorridas durante o trote do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na última sexta-feira, e que vem provocando revolta dos alunos da universidade e nas redes sociais.
Na outra imagem divulgada nas redes sociais, três estudantes fazem uma saudação nazista ao lado de um rapaz amarrado a uma pilastra. Um dos rapazes chega a ter pintado no rosto um bigode parecido com o de Hitler. As imagens foram postadas no Facebook ontem e já possuem mais de 3,5 mil compartilhamentos.

Centro acadêmico condena trote
O autor das imagens ainda é desconhecido, mas estudantes de Direito confirmaram que as cenas ocorreram durante o trote realizado na semana passada e contam ainda que os estudantes que aparecem nas imagens seriam alunos do segundo semestre, responsáveis pela organização do trote.
Os alunos do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), da Faculdade de Direito da UFMG, convocaram uma reunião ontem à noite para falar sobre o que ocorreu no trote e evitar que o episódio se repita.
- Nossa posição é de total repúdio ao machismo, racismo e homofobia. Nós não assinamos a responsabilidade pelo trote - disse Leonardo Custódio, vice-presidente do Centro Acadêmico, ao dizer que a entidade não participou da organização do trote realizado este ano.
A Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel), junto com o Movimento Mulheres em Luta (MML), convocou para amanhã outra reunião com o objetivo de discutir propostas de combate ao trote violento.
- Essa (trote) é uma prática recorrente, só que, desta vez, escancarou. Mas a prática do trote machista, racista e homofóbico é recorrente - disse Juliana Rocha, estudante do curso de Veterinária e integrante da executiva nacional da Anel.
Os alunos marcaram duas reuniões hoje. A primeira, às 12h, no curso de Direito; às 17h, novas discussões sobre o tema devem ocorrer na Arena da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, no campus Pampulha, da UFMG.

Vice-reitora promete providências
Procurada pelo GLOBO, a reitoria da UFMG informou que "repudia quaisquer atos de violência, opressão, constrangimento ou equivalentes, praticados contra membros da comunidade universitária, em particular aqueles relacionados aos chamados "trotes" aplicados aos novos estudantes".
A vice-reitora Rocksane de Carvalho Norton disse que a coordenação da faculdade de Direito montará uma comissão para investigar o caso. A expectativa é que a apuração dos fatos dure no máximo 30 dias.
A comissão também será responsável por determinar uma possível punição aos responsáveis pelo trote, que pode ir de uma simples advertência até a expulsão.
- Não chegou nenhuma reclamação dos calouros, mas, de qualquer forma, cabe à universidade investigar e punir - afirmou a vice-reitora.
Rocksane explicou que, antes do início das aulas, foi lançada uma campanha para alertar sobre a proibição do trote. No dia 8 de março, a UFMG divulgou em seu perfil no Facebook o post "Trote não é legal", em que cita dispositivos do regimento geral da instituição e as penalidades para quem descumprir as regras citadas.

Jornal O Globo

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