Com um séquito de nobres e fidalgos, no dia 8 de março de 1808, desembarcava no Largo do Paço, hoje Praça Quinze, a família real portuguesa. Se há controvérsias sobre o número de acompanhantes do então príncipe regente dom João (há historiadores que falam em 15 mil, outros contabilizam cerca de 500), não existem dúvidas de que foi pelos degraus do belo Chafariz do Mestre Valentim que eles alcançaram pela primeira vez o chão da cidade. Passados 205 anos da chegada da Coroa, aquele pedaço do Centro ainda guarda prédios, monumentos e histórias que remontam aos tempos em que o Rio se tornou capital da colônia portuguesa. A lista de pontos nobres inclui, além do imponente chafariz, o Paço Imperial, o que restou do Convento do Carmo (ou dos Carmelitas), o Arco do Telles e as igrejas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, e de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. Todos tombados pelo Iphan.
Inaugurado em 1789, o Chafariz do Mestre Valentim foi construído a pedido do vice-rei Luís de Vasconcelos e, ao longo de três séculos, sobreviveu às transformações ocorridas na região. A arquiteta Vera Dias afirma que o monumento resistiu a assoreamentos e aterros sendo, na década de 80 (no século XX), "redescoberto" depois que um trabalho arqueológico revelou os degraus escondidos por anos.
- Há um quadro de Debret em que a família real aparece desembarcando. Aqueles degraus foram o primeiro que o monumento resistiu a assoreamentos e aterros sendo, na década de 80 (no século XX), "redescoberto"
depois que um trabalho arqueológico revelou os degraus escondidos por anos.
- Há um quadro de Debret em que a família real aparece desembarcando. Aqueles degraus foram o primeiro contato com a cidade. Contam que eles foram andando até a Igreja Nossa Senhora do Rosário para agradecer a viagem bem-sucedida - diz Vera Dias, gerente de Monumentos e Chafarizes da prefeitura.
Paço Imperial, uma referência
Justamente um dos primeiros prédios avistados pelos representantes da Coroa, o palácio dos vice-reis, erguido em 1743, foi requisitado para alojar dom João. Obras de adaptação foram feitas para acomodar a realeza. Com a elevação da colônia à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, o local virou sede dos governos do Reinado e do Império. Depois da Proclamação da República, no Paço Imperial foram instalados os Correios e Telégrafos. Na década de 80, após restauração, o prédio em estilo colonial virou um centro de exposições e eventos. Hoje, conta com biblioteca, livraria e restaurante.
Assim como ocupou o Paço, a família real tomou posse da Cadeia (onde foi erguida depois a Alerj) e do Convento dos Carmelitas (no prédio, do qual só restou a parte da frente, atualmente funcionam salas da Universidade Candido Mendes).
Segundo o arquiteto e urbanista Nireu Cavalcanti, quando dom João e sua corte aportaram por aqui não havia acomodação suficiente para receber a Coroa e os nobres. Daí, a necessidade de confiscar imóveis.
- A família ocupava qualquer residência que quisesse e botava na porta da casa as iniciais P.R. (Príncipe Regente). A população carioca, já muito criativa, começou a ver o P.R. na sua porta e espalhou que aquilo significava: Ponha-se na Rua - conta o pesquisador Ivo Venerotti, que, na noite de sexta-feira, levou um grupo de turistas e cariocas para refazer os passos de dom João, como parte do programa Roteiros do Rio
(www.roteirosdorio.com).
Igreja está malconservada
Uma das paradas do roteiro foi o Arco do Telles. Erguido no século XVIII, para fazer a ligação da Praça do Carmo com a Rua da Cruz (atual Ouvidor), o arco é o que restou de um conjunto de prédios pertencente aos Telles de Meneses.
Duas igrejas do Centro também são visitadas nesses passeios pelo "Rio da nobreza". Uma delas é a de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, que, de 1737 até 1808, abrigou a Catedral, para ali transferida com a ruína da Igreja de São Sebastião, no Morro do Castelo. No templo, que pertencia a irmandades negras de escravos e libertos, foi festejada a chegada da Corte. Destruída parcialmente na década de 60 por um incêndio, ela teve que ser reconstruída. Da original, só restaram o pórtico e as torres. Localizada na Rua Uruguaiana (antiga Rua da Vala), hoje encontra-se degradada.
Naquele mesmo ano de 1808, por achar que uma igreja de negros não estava à altura de um rei, dom João transferiu a Sé para a Igreja do Convento da Ordem Carmelita, que tornou-se Capela Real. Ali Dom João foi de escravos e libertos, foi festejada a chegada da Corte. Destruída parcialmente na década de 60 por um incêndio, ela teve que ser reconstruída. Da original, só restaram o pórtico e as torres. Localizada na Rua Uruguaiana (antiga Rua da Vala), hoje encontra-se degradada.
Naquele mesmo ano de 1808, por achar que uma igreja de negros não estava à altura de um rei, dom João transferiu a Sé para a Igreja do Convento da Ordem Carmelita, que tornou-se Capela Real. Ali Dom João foi coroado, em 1818, com a morte de D. Maria I. Restaurada na época da comemoração dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil, a Antiga Sé hoje é um dos pontos turísticos mais bem preservados da região.
Fonte: O Globo
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