quarta-feira, 12 de março de 2014

Crônica do dia - Com as prórpias mãos - Marcos Espíndola

Bárbaro, na história, foi o termo utilizado para se referir àqueles considerados não civilizados. Até hoje é usado para identificar pessoas rotuladas como brutas e cruéis



O DIA
Rio - Bárbaro, na história, foi o termo utilizado para se referir àqueles considerados não civilizados. Até hoje é usado para identificar pessoas rotuladas como brutas e cruéis. Independentemente do emprego, o fato é que em pleno século 21 esse termo vem se tornando cada vez mais comum, representando atitudes que fogem ao conceito de cidadania. Seja por intermédio de manifestações populares que ultrapassam o bom senso da democracia, seja nas atitudes de quem resolveu fazer justiça com as próprias mãos. Retrocesso incompatível com a evolução da existência humana. 
Os recentes episódios no Rio denunciam esse movimento, que merece reflexão da sociedade. Em um deles, um rapaz foi preso, nu, a um poste por um cadeado de bicicleta. Cena forte e que deflagra a total insatisfação dos cidadãos com o poder público no que diz respeito à segurança pública. Em outra situação, um rapaz detido pela população é morto a tiros na frente de todos. Um justiceiro que não se preocupou em preservar sua identidade desceu da moto e alvejou o infrator, já detido pelo povo. 
Sob a alegação da ineficiência do Estado em oferecer segurança, algumas pessoas estão vendo nessas reações a resposta adequada para dizer basta. No entanto, há todo um grupo de opinião contrária. Estarrecidos, independentemente do delito cometido pelo ‘marginal’, consideram não ser justificável a justiça por conta própria. Afinal, agindo assim, aonde poderemos chegar? 
No Império Romano, por exemplo, o termo bárbaro era utilizado para se referir aos povos germânicos, celtas e persas, entre outros. Quem não era igual era bárbaro, sendo rechaçado; o que era um equívoco, pois, apesar de não serem romanos, tais povos tinham seus hábitos e costumes próprios, exatamente como os romanos. 
Na atualidade, sabemos que os criminosos convivem com os cidadãos de bem, num mesmo bairro ou cidade. Possuem a mesma cultura, mas, ao cometerem um delito, se posicionam à margem da sociedade, merecendo punição — mas para isso há uma Justiça constituída. 
Agir com barbaridade é nivelar por baixo, tornando-se bárbaro. Parece redundância, e é. A política do olho por olho e dente por dente há muito perdeu o sentido. É perigosa e vulnerável a injustiças. Ao adotar prática de justiceiro, a sociedade, essencialmente os jovens, corre o sério risco de perder seus princípios e valores, ficando sem referência e com manchas de sangue nas mãos. 



Advogado criminalista

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