Presos os acusados, é preciso investigar as denúncias de que partidos políticos aliciam e incitam a violência
HUDSON CORRÊA E RAPHAEL GOMIDE, COM ISABEL CLEMENTE, ANA LUIZA CARDOSO E FLÁVIA TAVARES
Depois de uma ação policial rápida e eficaz, os suspeitos do assassinato do cinegrafista Santiago Andrade foram presos na semana passada. Restou, no entanto, uma questão no ar, fundamental para entender – e combater – os crimes em manifestações: Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa recebem dinheiro para promover violência em protestos? Quem fez a denúncia, num primeiro momento, foi o próprio advogado de defesa de ambos, Jonas Tadeu Nunes. Ele disse que, quando participava de manifestações, Caio recebia R$ 150, lanche e passagem de volta para casa. Jonas disse também que o aliciamento se dá em “sistema de pirâmide”. Um ativista ligado a partidos arregimenta um grupo de pessoas, e cada uma delas recruta outros simpatizantes. Isso se repete, e a rede de aliciamento cresce. Dessa maneira, o dinheiro circula entre integrantes da célula, e fica difícil descobrir quem é o financiador na ponta.
Em seu depoimento à polícia, Caio admitiu haver pessoas “que aliciam jovens para participar de passeatas” e que “já foi convidado também para participar de forma remunerada”. Não revelou quem fazia esse tipo de proposta. Mas deu detalhes. Disse que havia “encarregados de distribuir pedras e apetrechos”, além de explosivos, para os atos de vandalismo. Caio afirmou também que acha que os partidos cujas bandeiras aparecem nos protestos são os mesmos que pagam manifestantes. Ele citou o PSOL, o PSTU e a Frente Independente Popular (FIP). Os dois partidos emitiram nota negando esse tipo de financiamento. A FIP não se pronunciou. Segundo o delegado Fernando Veloso, chefe da Polícia Civil, os serviços de inteligência iniciaram há alguns meses investigações sobre o aliciamento de jovens para promover quebra-quebras durante os protestos. Ainda em janeiro, um policial disse a ÉPOCA que políticos recrutavam até 300 manifestantes por protesto, com pagamento de R$ 200 para cada um.
Em seu depoimento à polícia, Caio admitiu haver pessoas “que aliciam jovens para participar de passeatas” e que “já foi convidado também para participar de forma remunerada”. Não revelou quem fazia esse tipo de proposta. Mas deu detalhes. Disse que havia “encarregados de distribuir pedras e apetrechos”, além de explosivos, para os atos de vandalismo. Caio afirmou também que acha que os partidos cujas bandeiras aparecem nos protestos são os mesmos que pagam manifestantes. Ele citou o PSOL, o PSTU e a Frente Independente Popular (FIP). Os dois partidos emitiram nota negando esse tipo de financiamento. A FIP não se pronunciou. Segundo o delegado Fernando Veloso, chefe da Polícia Civil, os serviços de inteligência iniciaram há alguns meses investigações sobre o aliciamento de jovens para promover quebra-quebras durante os protestos. Ainda em janeiro, um policial disse a ÉPOCA que políticos recrutavam até 300 manifestantes por protesto, com pagamento de R$ 200 para cada um.
Numa outra frente de investigação, a polícia apura casos de vandalismo cometidos por filiados a partidos políticos. ÉPOCA obteve documentos do serviço de inteligência sobre um dos investigados, um militante do PSOL, com histórico de fazer inveja a muito black bloc. Cantor e compositor, Paulo Henrique Antonio Lima, de 25 anos, candidatou-se em 2012 a vereador de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Não se elegeu. PH Lima – nome que usa nas redes sociais – foi preso duas vezes no intervalo de sete dias, em julho de 2013. Uma das detenções ocorreu no Leblon, na Zona Sul, local do “Ocupa Cabral”, movimento que promoveu um acampamento perto da casa do governador Sérgio Cabral. Duas mil pessoas participaram do protesto, que terminou em confronto com a polícia quando um grupo tentou se aproximar do prédio onde mora o governador. Os manifestantes recuaram e saíram pelas ruas quebrando agências bancárias, ateando fogo a lixeiras e saqueando lojas. Naquela noite, nove foram presos, acusados de formação de quadrilha – entre eles PH Lima. Ele também responde a um processo por lesão corporal leve, ao arremessar pedras. No começo do ano, PH Lima passou a se dedicar também aos rolezinhos, até aqui sem ações violentas. “Fui preso por formação de quadrilha apenas porque segurava uma faixa que dizia ‘Fora Cabral’. Os policiais foram truculentos e me prenderam sem justificativa”, disse PH Lima a ÉPOCA.
A principal liderança do PSOL no Rio é o deputado estadual Marcelo Freixo, que presidiu a CPI contra as milícias. Ele ganhou fama nacional por ter inspirado um dos principais personagens do filme Tropa de elite 2. Na semana passada, seu nome foi o primeiro a surgir nas aventadas ligações entre partidos e manifestantes violentos. O advogado Jonas disse na delegacia que Freixo era “ligado” ao rapaz que acendeu o rojão que atingiu Santiago e ofereceu ajuda jurídica a Fábio Raposo Barbosa, um dos acusados. Jonas atribuiu a afirmação à ativista Elisa Quadros, apelidada de Sininho. Sininho e Freixo negaram. Freixo diz ser “totalmente contra a violência, como método e como princípio”. De concreto, os dois admitem que, depois da prisão de Raposo, Sininho procurou Freixo por telefone. Segundo ambos, ela pediu que Freixo – na qualidade de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – verificasse “se não aconteceria nada com o Fábio na prisão”.
O telefonema para Freixo fez com que Sininho roubasse a cena durante as investigações. Ela apareceu ao longo da semana em vários momentos, em atos de solidariedade aos presos, em vídeos em que atacava a imprensa – e também quando foi divulgada uma lista de contribuições para uma festa de Natal organizada por ela, para os moradores de rua da região da Cinelândia, no Rio de Janeiro. Na lista de contribuintes estavam dois vereadores do PSOL, Renato Cinco e Jefferson Moura, um juiz, João Batista Damasceno, e até um policial, o delegado Orlando Zaccone – durante o evento, ele deu uma palestra sobre o direito de protestar.
A relação de Freixo com manifestantes, até onde se sabe, se dá de forma indireta e na área jurídica. Dois assessores de Freixo, os advogados Thiago Melo e Tomás Ramos atuam no Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos (DDH), uma ONG que oferece defesa jurídica a manifestantes detidos. Thiago é funcionário do gabinete de Freixo e Tomás dá expediente na Comissão de Direitos Humanos. Cada um dos advogados recebe salário de R$ 5.264,44. “O DDH garante que os detidos não sejam acusados por motivos absurdos. Essas pessoas não estão condenadas, e não me cabe julgá-las, mas garantir sua defesa”, diz Thiago. Freixo considera legítima a atuação dos assessores.
Outro partido que sai em socorro de manifestantes presos é o PR, comandado no Rio de Janeiro pelo deputado federal Anthony Garotinho. No dia 16 de dezembro, 25 ativistas foram detidos depois de invadir o prédio do antigo Museu do Índio, conhecido como Aldeia Maracanã, por ficar ao lado do estádio. Logo em seguida, chegou à delegacia um dos principais funcionários do gabinete do deputado estadual Geraldo Pudim (PR). O publicitário Sebastião Rodrigues Machado Junior, conhecido como Nayt, se apresentou como assessor especial para direitos humanos de Pudim. Ele prestou declaração como testemunha e reclamou que não tomara conhecimento de ordem judicial para a desocupação. Nayt faz parte da direção do PR e recebe um salário de R$ 8 mil mensais no gabinete de Pudim.
O telefonema para Freixo fez com que Sininho roubasse a cena durante as investigações. Ela apareceu ao longo da semana em vários momentos, em atos de solidariedade aos presos, em vídeos em que atacava a imprensa – e também quando foi divulgada uma lista de contribuições para uma festa de Natal organizada por ela, para os moradores de rua da região da Cinelândia, no Rio de Janeiro. Na lista de contribuintes estavam dois vereadores do PSOL, Renato Cinco e Jefferson Moura, um juiz, João Batista Damasceno, e até um policial, o delegado Orlando Zaccone – durante o evento, ele deu uma palestra sobre o direito de protestar.
A relação de Freixo com manifestantes, até onde se sabe, se dá de forma indireta e na área jurídica. Dois assessores de Freixo, os advogados Thiago Melo e Tomás Ramos atuam no Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos (DDH), uma ONG que oferece defesa jurídica a manifestantes detidos. Thiago é funcionário do gabinete de Freixo e Tomás dá expediente na Comissão de Direitos Humanos. Cada um dos advogados recebe salário de R$ 5.264,44. “O DDH garante que os detidos não sejam acusados por motivos absurdos. Essas pessoas não estão condenadas, e não me cabe julgá-las, mas garantir sua defesa”, diz Thiago. Freixo considera legítima a atuação dos assessores.
Outro partido que sai em socorro de manifestantes presos é o PR, comandado no Rio de Janeiro pelo deputado federal Anthony Garotinho. No dia 16 de dezembro, 25 ativistas foram detidos depois de invadir o prédio do antigo Museu do Índio, conhecido como Aldeia Maracanã, por ficar ao lado do estádio. Logo em seguida, chegou à delegacia um dos principais funcionários do gabinete do deputado estadual Geraldo Pudim (PR). O publicitário Sebastião Rodrigues Machado Junior, conhecido como Nayt, se apresentou como assessor especial para direitos humanos de Pudim. Ele prestou declaração como testemunha e reclamou que não tomara conhecimento de ordem judicial para a desocupação. Nayt faz parte da direção do PR e recebe um salário de R$ 8 mil mensais no gabinete de Pudim.
Em novembro, uma reportagem do jornal O Globo apontou Nayt como suspeito de recrutar e pagar ativistas para manifestações de rua. Após a publicação da reportagem, uma das delegacias que investigam atos de vandalismo intimou-o a prestar depoimento. Nayt recorreu à Justiça, que considerou a intimação ilegal, pois não especificava a acusação ou caso investigado. Procurado por ÉPOCA, Nayt preferiu não dar entrevista. A assessoria de Pudim disse que Nayt não recruta manifestantes e que, no caso da Aldeia Maracanã, passava de carro pelo local quando viu as prisões e decidiu ir à delegacia.
Caio e Raposo, os suspeitos do assassinato de Santiago, são assíduos em manifestações – independentemente de a polícia comprovar se recebem dinheiro. Caio tem 22 anos e mora no município de Nilópolis, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ele tem apenas o ensino fundamental, que cursou em escolas públicas, e trabalha como porteiro num hospital em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio. Vai ao trabalho de trem. Mora com o pai, o enfermeiro Antonio Carlos, cuja casa fica mais perto da estação. A mãe vive no mesmo bairro, com o avô materno de Caio. Mãe e avô tomam remédios controlados contra esquizofrenia.
Raposo também tem 22 anos e mora sozinho num apartamento no Méier, bairro de classe média na Zona Norte do Rio. Antes de se tornar Fox, nome que usa nas manifestações, Raposo era apenas Fabinho, filho mais velho de uma professora da rede pública. Ele cresceu no Méier. Há poucos anos, os pais se divorciaram. A mãe se mudou com a irmã e o segundo marido para o Recreio dos Bandeirantes, bairro da Zona Oeste do Rio. Raposo ficou com o pai, mas desde o ano passado mora sozinho. É o tipo de jovem que ajuda vizinhos idosos com sacolas de compras e chama a síndica de “tia”. Quem o conhece desde pequeno lembra o menino que gostava de soltar pipa, andar de bicicleta e skate. Para pagar as contas, Raposo fazia bicos como DJ. Depois, comprou equipamentos para tatuar e resolveu mudar de profissão. Treina tatuagens nos amigos. A mãe visita o filho com frequência e, não raro, se encarrega de fazer as compras de supermercado para ele.
Caio e Raposo aguardam o julgamento em penitenciárias diferentes no Complexo de Gericinó, em Bangu. A polícia ainda investiga até que ponto eles são parte de um fenômeno maior – o aliciamento de militantes pagos para promover atos violentos em manifestações.
Caio e Raposo, os suspeitos do assassinato de Santiago, são assíduos em manifestações – independentemente de a polícia comprovar se recebem dinheiro. Caio tem 22 anos e mora no município de Nilópolis, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ele tem apenas o ensino fundamental, que cursou em escolas públicas, e trabalha como porteiro num hospital em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio. Vai ao trabalho de trem. Mora com o pai, o enfermeiro Antonio Carlos, cuja casa fica mais perto da estação. A mãe vive no mesmo bairro, com o avô materno de Caio. Mãe e avô tomam remédios controlados contra esquizofrenia.
Raposo também tem 22 anos e mora sozinho num apartamento no Méier, bairro de classe média na Zona Norte do Rio. Antes de se tornar Fox, nome que usa nas manifestações, Raposo era apenas Fabinho, filho mais velho de uma professora da rede pública. Ele cresceu no Méier. Há poucos anos, os pais se divorciaram. A mãe se mudou com a irmã e o segundo marido para o Recreio dos Bandeirantes, bairro da Zona Oeste do Rio. Raposo ficou com o pai, mas desde o ano passado mora sozinho. É o tipo de jovem que ajuda vizinhos idosos com sacolas de compras e chama a síndica de “tia”. Quem o conhece desde pequeno lembra o menino que gostava de soltar pipa, andar de bicicleta e skate. Para pagar as contas, Raposo fazia bicos como DJ. Depois, comprou equipamentos para tatuar e resolveu mudar de profissão. Treina tatuagens nos amigos. A mãe visita o filho com frequência e, não raro, se encarrega de fazer as compras de supermercado para ele.
Caio e Raposo aguardam o julgamento em penitenciárias diferentes no Complexo de Gericinó, em Bangu. A polícia ainda investiga até que ponto eles são parte de um fenômeno maior – o aliciamento de militantes pagos para promover atos violentos em manifestações.
Revista Época
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