MARTHA MEDEIROS
Areforma ortográfica é um assunto que muitos já debateram e poucos aceitaram com resignação, tanto que, em vez de as novas regras se tornarem obrigatórias no início de 2013, como estava previsto, a obrigatoriedade foi adiada para 1º/01/2016, a fim de que todos tenham tempo para se adaptar. Até lá, seguiremos divididos entre obedientes e rebeldes, cada grupo colocando e retirando os acentos de acordo com seu grau de inconformismo.
Eu estou no grupo dos obedientes, já que fui criada para ser boa moça. Mas boas moças também têm seus dias de falta de paciência, e hoje é um deles, portanto me permitam a reclamação: quem teve a ingrata ideia de retirar o acento diferencial de para, do verbo parar? Hoje, com a nova ortografia da língua portuguesa, só analisando o contexto da frase para distinguir o verbo para da preposição para. Mas o contexto será mesmo suficiente para eliminar qualquer dúvida? Não concordo, e você provavelmente também não, se teve dificuldade de entender o que foi escrito neste parágrafo – não é fácil mesmo fazer a diferenciação numa leitura rápida.
Para tudo, há uma solução, diria um gramático.
Para tudo, que quero descer, digo eu.
“Quando o trem de Porto Alegre para São Paulo sai atrasado, ele não para em Curitiba.” Esta frase, lamentavelmente, é fantasiosa, já que não temos trens de passageiros circulando pelo país, mas é bem realista do ponto de vista ortográfico. É assim mesmo que deve ser escrita, sem acento diferencial no “para em Curitiba”. Para desconsolo de todos.
Acompanhe uma amiga minha: ela não para em casa, e assim não encontra tempo para esperar o moço encarregado de fazer reparos no seu telhado, que está apinhado de goteiras, a sala fica encharcada, só seca quando a chuva para. E meu primo? Vive para cima e para baixo, esquece de fazer as compras para a semana, não para empregada na casa dele. Mas caduco mesmo está meu cachorro, que quando para de latir, é para alertar que tem gente estranha parada junto à porta, ou seja, faz o contrário da maioria dos cães, que late para alertar e só para quando o perigo passou.
Ficou claro para você?
Para mim a única coisa que está clara é que fazia muito mais sentido quando escrevíamos que uma hora a chuva pára, que empregada não pára em casa bagunçada, que cachorro pára de latir quando não vê mais motivo para alertas e que tudo fica bem confuso quando uma colunista tem seu dia de rebeldia e não para de reclamar – mesmo a reclamação não servindo para nada.
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