sábado, 29 de março de 2014

Te Contei, não ? - Ultrarromantismo

O Romantismo tem origem na Alemanha do século XVIII, quando Goethe publica Os Sofrimentos do Jovem Werther, obra que anuncia os temas centrais do movimento romântico na Europa, como o sentimentalismo, a idealização da mulher e do amor e a evasão da realidade.  
Porém, aquele que se torna o mais marcante da primeira geração romântica brasileira é a evasão da realidade, mecanismo que permitiu aos nossos escritores descobrir o passado histórico do país e sua paisagem natural. Como foi explicado em Romantismo – Primeira Geração (link), o surgimento do movimento romântico em terras brasileiras coincide com o momento em que o país torna-se independente de Portugal, levando artistas e intelectuais do período à construção de uma identidade autenticamente nacional. O índio valoroso e a natureza abundante surgem como símbolos de brasilidade.
Veremos de que forma a segunda geração dará continuidade ao projeto romântico brasileiro.

MAL-DO-SÉCULO (ULTRARROMANTISMO)

Entre as características gerais do Romantismo, aquela que mais se faz presente na segunda geração do movimento no Brasil é a evasão da realidade. Só que essa evasão não acontece no tempo ou no espaço, como na primeira geração. Agora, a fuga da realidade ganha contornos trágicos. Os heróis românticos encontram na morte uma solução para seus problemas existenciais, podendo chegar, inclusive, ao suicídio. Isso acontece porque, de acordo com o pensamento romântico, o indivíduo vive em constante conflito com a sociedade, tornando-se uma espécie de “desajustado”. Essa sensação de constante desajuste tem como consequência alguns comportamentos tipicamente românticos: 
O Anjo da Morte (1851)  (Foto: Pintura: Horace Vernet/Reprodução)O Anjo da Morte (1851) (Foto: Pintura: Horace Vernet/Reprodução)
- pessimismo 
- dor existencial 
- sofrimento 
- isolamento 

Essas atitudes caracterizam aquilo que ficou conhecido como “mal-do-século”. Assim sendo, por levar o subjetivismo romântico às últimas consequências, a segunda fase do Romantismo no Brasil também é conhecida como geração ultrarromântica. A tela abaixo representa a atração que os artistas românticos têm pela morte também na pintura.

ÁLVARES DE AZEVEDO - LIRISMO DA DESCRENÇA

O principal representante do ultrarromantismo no Brasil é o poeta paulistano, com passagem pelo Rio de Janeiro, Álvares de Azevedo. Assim como os outros poetas de sua geração, coloca em segundo plano o nacionalismo da primeira geração e passa a explorar a subjetividade, o mundo interior, o que se passa nas profundezas do indivíduo, revelando uma visão trágica da existência. Suas obras mais famosas são o livro de poemas Lira dos vinte anos, a peça Macário e os contos de Noite na taverna. 
Soneto
(...)
Morro, morro por ti! na minha aurora  
A dor do coração, a dor mais forte,  
A dor de um desengano me devora...    

Sem que última esperança me conforte,  
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora  
Morte no coração, nos olhos morte! 

Observe que, nesses versos, a frustração amorosa provocada por uma mulher sempre idealizada e inacessível, leva o eu lírico a desejar a morte. Na poesia da segunda fase, parece que o eu lírico sente prazer em sofrer.

Outros autores
Junqueira Freire: aos 18 anos decidiu-se pela vida religiosa, ingressando no Mosteiro de São Bento. Sua obra tem como tema central a morte como libertação da matéria.
Fagundes Varela: poeta marcado pela perda prematura de seu filho e pelo aloolismo, sua obra explora temas nacionalistas e ultrarromânticos, mas também sociais, como a questão no negro, inaugurando uma tendência que será aprofundada na próxima fase do Romantismo no Brasil.

NO ENEM

(Enem -2010)
Soneto 
Já da morte o palor me cobre o rosto, 
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! 

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
(AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é
A) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. 
B) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
C) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
D) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
E) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.

Gabarito: B
Elaine Brito Souza

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