Cálice
Pai, afasta de mim esse cálice pai, afasta de mim esse cálice pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue Como beber dessa bebida amarga tragar a dor, engolir a labuta mesmo calada a boca, resta o peito silêncio na cidade não se escuta de que me vale ser filho da santa melhor seria ser filho da outra outra realidade menos morta tanta mentira, tanta força bruta Como é difícil acordar calado se na calada da noite eu me dano quero lançar um grito desumano que é uma maneira de ser escutado esse silêncio todo me atordoa atordoado eu permaneço atento na arquibancada pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa De muito gorda a porca já não anda de muito usada a faca já não corta como é difícil, pai, abrir a porta essa palavra presa na garganta esse pileque homérico no mundo de que adianta ter boa vontade mesmo calado o peito, resta a cuca dos bêbados do centro da cidade Talvez o mundo não seja pequeno nem seja a vida um fato consumado quero inventar o meu próprio pecado quero morrer do meu próprio veneno quero perder de vez tua cabeça minha cabeça perder teu juízo quero cheirar fumaça de óleo diesel me embriagar até que alguém me esqueça
"Cálice" é uma canção escrita e originalmente interpretada pelos cantores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973. Na canção percebe-se um elaborado jogo de palavras para despistar a censura da ditadura militar. A palavra-título, por exemplo, é cantado pelo coral que acompanha o cantor de forma a soar como um raivoso "Cale-se!". A canção teve sua execução proibida durante anos no Brasil. Só foi lançada em disco em novembro de 1978 no álbum Chico Buarque, tendo Milton Nascimento nos versos de Gil, e também em dezembro no
"Cálice" foi composta para o show Phono 73, que a gravadora organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973. O evento reuniria em duplas os maiores nomes de seu elenco, onde deveria ter sido cantada por Gil e Chico. Gil havia composto o refrão "Pai, afasta de mim este cálice / de vinho tinto de sangue", uma óbvia alusão à agonia de Jesus Cristo no Calvário, tendo a ambiguidade (cálice / cale-se) sida imediatamente percebida por Chico. Gil havia composto ainda a primeira estrofe da canção. A partir de dois encontros com Chico, compôs a melodia e as demais estrofes, quatro no total, sendo a primeira e a terceira de Gil e a segunda e a quarta de Chico.
No dia do show, quando os dois começaram a cantar "Cálice" tiveram os microfones desligados. De acordo com Gil, a canção havia sido apresentada à censura e eles foram recomendados a não cantá-la.
A palavra “Cálice” tem um duplo sentido, ela pode estar se referindo à oração de Jesus antes de sua flagelação e morte. Ou pode estar se referindo a “cale-se”. Ou seja, a música diz “afasta de mim esse cale-se”, está se referindo é liberdade de expressão.
Contribuição do aluno André Cotrim / Turma 901 / 2013
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