sábado, 29 de junho de 2013

Te Contei, não ? - Os muitos signos de Camões

 

No Real Gabinete de Português de Leitura, o poeta posa diante da estátua de Camões
Foto: Divulgação/Marcelo Correa
 
 
RIO - As circunstâncias que envolvem o nascimento de Luís de Camões permanecem um grande segredo da literatura portuguesa. Como não se sabe a data exata em que o autor de “Os Lusíadas” veio ao mundo, ficou impossível atribuir-lhe um signo. Pensando nisso, o poeta brasiliense Luis Maffei mergulhou num projeto inusitado: para cada uma das constelações do zodíaco, compor um poema com a premissa de que o bardo pertenceria a ela. O resultado são as 12 poesias de “Signos de Camões”, jogo de espelhos que relaciona os mistérios da astrologia e as diversas facetas da obra camoniana. Publicado em fevereiro pela Companhia das Ilhas, de Portugal, o livro será lançado no Brasil pela editora carioca Oficina Raquel, amanhã, às 18h, no Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense.
— A astrologia sempre me interessou, mas sou leigo no assunto — explica Maffei. — Do que mais gosto são as interseções entre os signos, os pontos de contatos... Existe essa ideia de encontro, que tem tudo a ver com a obra de Camões. A beleza das indicações dos mapas astrológicos é mostrar o quanto somos plurais, da mesma forma que Camões foi um poeta muito diverso. Para mim, é uma relação essencial.
Caráter revolucionário
Os poemas dialogam com as características mais óbvias e conhecidas de cada signo. Em Aquário, a constelação da liberdade, Maffei adota versos livres; já em Virgem, conhecida pela organização, arrisca-se nas formalidades da sextina, um dos sistemas estróficos mais exigentes e raros da poesia (o próprio Camões se aventurou apenas uma única vez no formato). Gêmeos, por sua vez, traz uma reflexão sobre o duplo, remetendo à obra de Fernando Pessoa (“O maior dos geminianos”, segundo Maffei). E assim a brincadeira prossegue, com o poeta ora emulando o estilo do seu xará, ora fazendo alusões a temas recorrentes de sua obra.
Logo na abertura, ele busca em Áries a ideia de infância e renovação, estabelecendo um diálogo entre a tradição clássica da poesia portuguesa e a modernidade urbana do Novo Mundo, as grandes navegações e o século XXI. Imagens fortes ressaltam a contemporaneidade de Camões. “Nada temo pois te tenho, e na cidade rejeitada, Babel precária, surda e velha, é onde te vejo e ao mar novo, terra fértil, fronte a criar criança e povoamento”, escreve.
— Na astrologia, revolução é uma palavra-chave para definir o movimento de um astro dentro de um determinado ciclo — lembra Maffei. — E quando escrevo sobre Camões, tento mostrar o caráter revolucionário da sua poesia. Ele é revolucionário pela maneira aberta com que convive com contradições. Por isso, é o mais contemporâneo dos poetas, embora tenha sido muito mal lido, usado para fins políticos até metade do século XX.
A multiplicidade de Camões também está representada na variedade formal dos 12 poemas. Maffei abraça quase todos os sistemas poéticos possíveis, indo do soneto ao verso livre. A obra traz elegias (Câncer), canções (Sagitário), sextinas (Virgem), além de dois sonetos e dois poemas em prosa.
Sagitariano com ascendente em Virgem, Maffei não tem conhecimento profundo de astrologia. Por isso, contou com as dicas da escritora e astróloga profissional Roberta Ferraz, que assina o posfácio da obra. E se ele tivesse que chutar o signo de seu xará?
— Aquário, constelação da revolta — responde. — Por outro lado, Camões tinha uma ideia muito radical de justiça, não apenas justiça política, mas também amorosa. Então eu poderia aceitar muito bem sagitariano. Se bem que ele também tem o lado Escorpião ligado ao mistério, Virgem à reflexão sobre a ordem, Capricórnio ao maternal... Pensando melhor, ele poderia ser de todos os signos. E isso que é bonito.
O livro será lançado amanhã durante o colóquio Um Dia de Camões, que começa às 8h30m, e conta com palestras de especialistas da literatura portuguesa, como Jorge Fernandes da Silveira e Cleonice Berardinelli. O evento celebra o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, feriado nacional em terras lusas, em que se assinala a morte do poeta.


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