quinta-feira, 20 de junho de 2013

Crônica do Dia - Satisfação garantida ou ...

Satisfação garantida ou...

Quem acompanhou pela televisão a passeata que parou o Rio na segunda-feira viu dois tipos de manifestação nas ruas da cidade. A primeira foi até monótona. O povo tomou conta da Avenida Rio Branco. Sem exagerar, a polícia calculou em cem mil o número de pessoas que se dirigia à Cinelândia reivindicando de tudo um pouco. Ninguém mais se lembra de que tudo começou por causa de um aumento no preço das passagens de ônibus. O povo pedia transporte de qualidade. Mais verbas para a educação. Mais dinheiro para a saúde. Gritava “abaixo a PEC 37”. Reclamava dos gastos com a construção de novos estádios de futebol para a Copa do Mundo. E, como havia vagas para qualquer espécie de protesto, houve quem aproveitasse para solicitar a liberalização da maconha.
Os repórteres não conseguiam esconder o alívio por não ver se repetir nas ruas do Rio o confronto entre manifestantes e polícia que havia acontecido em manifestações anteriores em São Paulo. “É uma manifestação pacífica”, repetiam. “É uma manifestação completamente pacífica”, insistiam. “É uma manifestação inteiramente pacífica.” Quatro horas depois, quando o protesto parecia estar acabando, já não dava para esconder a emoção. “Olha que imagem bonita!”. “Não houve um só incidente”.
O espectador, também aliviado, sentia que dava até para assistir, sem culpa, a mais um capítulo da novela das sete. Foi aí que apareceu o segundo tipo de manifestação. E, desta vez, as imagens, que interromperam duas ou três vezes a exibição de “Sangue bom”, evidenciavam que a passeata não estava acabando bem. Um grupo de bandidos tentava invadir a Assembleia Legislativa. Eram cenas de cinema. Um grupo de homens escondia o rosto para não ser identificado e, atirando pedras, subia a escadaria do Palácio Tiradentes. Algo pegava fogo na entrada principal do prédio. As colunas eram pichadas. Estranhava-se a ausência de policiais. Depois, soube-se que, acuados pelo ataque popular, eles estavam tentando se proteger dentro da Assembleia. Alguns ficaram feridos. Uma palavra que marcou as manifestações anteriores voltava a assombrar: vandalismo.
Quanto a este segundo tipo de manifestação, não há muito o que dizer. É caso de polícia. O recado estava mesmo no primeiro tipo de manifestação, aquela “inteiramente pacífica”. A população parece cansada de ler nos jornais e ver nos noticiários de televisão os casos de corrupção que se multiplicam e não levam ninguém para a cadeia. Parece, enfim, haver uma reação contra o discurso otimista do governo, enquanto os hospitais públicos caem aos pedaços e o ensino público mostra-se incapaz de educar. A economia está sob controle, insiste em dizer a autoridade, enquanto o dólar dispara, a inflação reaparece e a atividade econômica é raquítica. Dilma não foi vaiada por acaso na abertura da Copa das Confederações.
Com o povo nas ruas, não dá mais para acreditar que governar é apenas controlar a maioria no Congresso. Administrar o país não é apenas garantir que o PMDB continue fazendo parte da base governamental. O Brasil não se resume a uma briga entre PT e PSDB. O povo está nas ruas. E está insatisfeito.
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Coisa feia o PSTU tentando tirar uma casquinha da mobilização popular e levando suas bandeiras à passeata para sair bem na foto. O poder de mobilização do PSTU não dá para lotar a pracinha do Bairro Peixoto quanto mais a Avenida Rio Branco. Caso típico de tentativa de propaganda enganosa
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Tudo bem que as redes sociais facilitaram a mobilização popular, mas é bobagem acreditar que isso seria impossível sem elas. Como todo mundo sabe, não é a primeira vez que cem mil pessoas ocupam o Centro do Rio. A célebre Passeata dos Cem Mil, ao protestar contra a ditadura militar, não recebeu este nome por acaso. O principal comício das Diretas Já reuniu um milhão de pessoas em frente à Candelária. O primeiro foi em 1968; o segundo, em 1984. A internet não existia nem em romances de ficção científica.
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Pode ter sido coincidência. Afinal, a gota d’água não escolhe a hora para transbordar o copo. Mas é muito conveniente que este protesto que explode em todo o país aconteça justamente durante a Copa das Confederações. O povo nas ruas deu nova força a uma expressão que tinha se desgastado rapidamente: imagina na Copa!

O Globo

Um comentário:

  1. Eu apoio é claro o 1º tipo de manifestação , mais acho que o 2º é totalmente inútil pois eu cheguei a uma lógica que não sei se está certa ou errada mais se a gente destrói as janelas de um órgão público não faz sentido pois o dinheiro que vai ser usado para concertá-las vai ser com o nosso que pagamos com impostos .

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