Passamos do riso para a seriedade da revolta frente ao Estado corrompido, sem nenhuma vergonha das suas falcatruas
Rio - “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama
violentas às margens que o comprimem”, observou o dramaturgo alemão Bertolt
Brecht. O povo, oprimido, foi desrespeitado e explorado ao longo dos últimos
anos pelas margens, que — agora denomino aqui como Estado — foram rompidas. A
passeata dos 100 mil, segunda-feira passada, foi histórica assim como a do ano
de 1968, em plena ditadura militar. Hoje, histórica como aquela, em plena
‘ditadura civil’.
Está detonado um dispositivo de ação que havia adormecido. O gigante povo,
esse rio caudaloso, acordou e atravessou a cidade pacificamente, apesar de algum
vandalismo vindo de outros segmentos ideológicos. Passamos do riso, da comédia,
para a seriedade da revolta frente ao Estado corrompido, sem nenhuma vergonha
das suas falcatruas. Banalizou a corrupção.
Este Estado arrecadador pratica cobrança de primeiro mundo e devolução de
serviços à população... sem mundo. Cobrar multa de quem suja a cidade é lícito
do mesmo modo que é ilícito oferecer ao cidadão um passeio público esburacado,
precário, bem como a saúde e o transporte público.
Choque de ordem para o povo já foi fácil, mas, hoje, nem tanto. Imagine uma
proposta de choque de ordem ao prefeito e ao governador, nas contas e na
prestação precária de serviços à população? De que modo? Ora, somos apenas as
águas tidas como violentas, eles, as margens que nos contêm, agora, frágeis.
Ao que tudo indica, tanto o governador Sérgio Cabral Filho como o prefeito
Eduardo Paes se tornaram empresários. Usam a máquina e o poder para fazer
negócios de acordo com seus interesses próprios. Tentem marcar uma audiência com
ambos! Tem algo a oferecer a eles? Algum bom negócio? Caso negativo, não
insista. Vá reclamar com o bispo ou protestar nas novas manifestações que,
graças à mídia e à tecnologia, nos dão visibilidade global e sobretudo
credibilidade. O lixo já não pode mais ser jogado para baixo do tapete! O povo,
unido, jamais será vencido!
Fernando Scarpa é psicanalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário