sábado, 29 de junho de 2013

Te Contei, não ? - As quadrilhas que são a cara da riqueza


     O luxo das sinhazinhas nas festas juninas Foto: Laura Marques / Agência O Globo





RIO - Com as bênçãos de Santo Antônio, São Pedro e São João, simplesmente esqueça o vestidinho de chita, os retalhinhos de algodão, os bigodinhos feitos a carvão, o paletó puído e o chapéu de palha. Chegou a hora da fogueira, mas o que reluz agora, num número crescente de festas juninas cariocas, são as pedrarias, os cristais Swarovski e os efeitos em LED. Sim, os arraiás ganharam a cara da riqueza. Não quer dizer que barraquinhas com comidas típicas, bandeirinhas e o sanfoneiro estejam fora do caminho da roça. O que faz toda a diferença atualmente são as novas quadrilhas. Um luxo só. Com coreografias elaboradas, enredos, alegorias, figurinos rebuscados e até destaques, os grupos, formados por até 24 casais, levam a sério a tradição da dança originária da Holanda, popularizada na França, que desembarcou no Brasil, no século XIX, com a Corte de D. João VI. Montar a apresentação chega a custar R$ 200 mil. Esse gigantismo pode ser conferido em torneios que se estendem de maio a agosto. E em julho, pela primeira vez, a final do campeonato brasileiro de quadrilhas será no Rio. Prova de que as festas grandiosas não são mais exclusividade do Nordeste.
A importância dessa manifestação cultural popular é o mote do projeto de lei 2.225/2013, que tramita na Câmara dos Vereadores, propondo o tombamento das quadrilhas como patrimônio imaterial da cidade. Hoje, o Rio tem entre 120 e 150 grupos, a maioria oriunda das zonas Norte e Oeste. Na Baixada Fluminense, o movimento também é forte. É lá que estão alguns dos grupos mais luxuosos do estado. Eles chegaram a um patamar de profissionalismo que inclui uma agenda lotada de apresentações em festas particulares, quermesses e eventos de empresas.
Figurinos podem custar mais de R$ 6 mil
O ressurgimento das quadrilhas fez até surgir a figura do promotor junino. Somente um deles vendeu para esta temporada 40 shows, que saem, no mínimo, por R$ 900, para meia hora de dança.
— Ano passado, agendei 20 shows, mas este ano já temos o dobro. As quadrilhas estão em alta — comemora Wagner Bastos, também diretor de divulgação dos dois maiores concursos de quadrilhas do Rio, o Festrilha, que reúne 40 grupos, e o Faquabaf, com 30.
Do mesmo modo que a sociedade carioca fazia no século XIX, as quadrilhas atuais se dividem em duas categorias: roça e salão. Cada uma com seu campeonato, em que cumprem quesitos obrigatórios, como coreografia (de 25 a 30 minutos de duração), figurino caprichado e enredo. Os grupos se apresentam também com alegorias e destaques: noiva, rainha, princesa, sinhazinha, florista e viúva são as principais.
Grupos têm dois estilos
O que difere os dois estilos são as coreografias (a roça tem danças mais rápidas e dinâmicas), os enredos (as da roça usam temas mais nordestinos) e os figurinos — as de salão recorrem a tecidos mais nobres, rendas (por vezes, importadas), pedrarias e até LED. A roupa de um destaque feminino, cuja anágua chega a oito metros de roda, não sai por menos de R$ 6 mil. Isso não significa, porém, que as quadrilhas da roça tenham roupas menos belas. Apenas adotam um estilo mais próximo do tradicional. Outra diferença entre os dois grupos é o número de componentes. A turma da roça pode ter até 30 pares. A de salão, não mais do que 24.
Márcio Perrotta, diretor artístico da Quadrilha do Sampaio, a agremiação mais antiga em atividade no Brasil — fundada em 1956 — lembra que, nos anos 80 e 90, a violência na cidade acabou por afetar as festas juninas, principalmente, as montadas em praças. Com a pacificação, as quermesses voltaram a ganhar força, garantindo espaço para as quadrilhas. Este ano, a turma do Sampaio fará 50 apresentações, entre eventos fechados e arraiás públicos.
— Apesar de termos coreografia, não abrimos mão de dançar os passos da quadrilha tradicional. As roupas são suntuosas, mas não são carnavalizadas, porque preferimos trabalhar com criatividade. — diz Perrotta.
Roupas são parceladas
No Sampaio, a sinhazinha é interpretada pela jornalista Carolina Grimião, de 25 anos, moradora de Padre Miguel. Ela guarda dinheiro ao longo de 12 meses para bancar a roupa que, em 2013, custou R$ 1,7 mil. Até o sapato foi feito sob medida. A história de Carolina é comum entre os quadrilheiros. Sem patrocínio, os dançarinos são obrigados a apelar para rifas e bingos ou a parcelar em longuíssimas prestações suas indumentárias.
— Desde criança, adorava folclore. Dançar numa quadrilha tradicional é realizar esse sonho — afirma a moça.
Enredo, coreografias, alegorias, figurinos... A organização das quadrilhas lembra outra festa bem popular, não? Pois é, as semelhanças com o carnaval não param por aí. Profissionais do baticum têm dado expediente na “roça”. Eles ajudam os grupos a montar as apresentações e dão pitacos na criação e na confecção das roupas.


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Um comentário:

  1. Sinceramente , eu achei isso ridículo ter que pagar muito dinheiro em uma simples dança que tem o objetivo de divertimento e não de lucrar ou aproveitar da situação como o Wagner Bastos eu considero esse cara um baita de um Muquirana (ou malandro) que quer só ganhar dinheiro que aposto que será utilizado em uso pessoal , nem ajudar as pessoas carentes vai ABSURDO !

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