'A viagem nos propiciou um contato direto com a mais importante floresta tropical do mundo'
Rio - Fiz uma viagem literária pelo Rio Negro na primeira semana de maio. Uma
centena de pessoas lotou o navio Iberostar para conversar sobre literatura com
os escritores Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colasanti, Cadão Volpato, Xico
Sá e eu.
Navegamos quase 200 quilômetros. Nesta época do ano o rio sobe de oito a dez
metros, ampliando os igarapés e inundando a mata de igapós. Em suas águas se
abriga o poraquê, também chamado de enguia-elétrica, que emite descarga de
eletricidade de 300 a 1.500 volts, dependendo do tamanho.
Provamos a seiva branca, leitosa, da sorva, que serve de matéria-prima ao
chicletes e, na falta de leite materno, é utilizada para alimentar o bebê. Já o
cipó da piranheira aplaca, na falta de cigarros, o vício dos ribeirinhos.
Os passeios de barcas nos permitiram atracar nas margens do Rio Negro e
caminhar pelas trilhas da floresta. Do navio desfrutamos cenários esplendorosos,
como o nascer e o pôr do sol na Floresta Amazônica e, próximo a Manaus, o
encontro das águas, quando os rios Negro e Solimões mesclam aos poucos seus
leitos negro e barrento e se juntam para formar o Amazonas.
A viagem nos propiciou um contato direto com a mais importante floresta
tropical do mundo, que comporta 12% da água potável do planeta e abriga uma
biodiversidade de três mil diferentes espécies vegetais e animais por quilômetro
quadrado.
Como seria importante descolonizar a cabeça dos brasileiros de classes média
e rica. Em vez de levar filhos e netos à Disneylândia, incutindo-lhes o
consumismo, melhor e mais sábio seria trazê-los à Floresta Amazônica, ao
Pantanal mato-grossense, à Chapada dos Veadeiros, de modo a educá-los no senso
de preservação ambiental, respeito aos povos indígenas e ribeirinhos e amor ao
Brasil.
Frei Betto é escritor, autor de ‘O amor fecunda o Universo –
ecologia e espiritualidade’, em parceria com
Marcelo Barros
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