Seria bom voltarmos a ler Zygmunt Bauman, em 'Vida Líquida'
Rio - Seria bom voltarmos a ler Zygmunt Bauman, em ‘Vida Líquida’. O mundo
está assim, é fluido, ninguém sabe quem o lidera; no entanto, líderes existem e
são virtuais. Como a classe média, a que mais paga imposto — embora como os
demais brasileiros —, não vê muito retorno, ela se afirma e se expressa nas
redes sociais. Isso pode ser constatado pelos óculos escuros de grife dos
manifestantes, pelas roupas e pelos tênis de marca.
Parece claro que tudo está além dos centavos acrescidos às passagens. As
questões de inflação, corrupção e, sobretudo, inércia dos governantes já vêm
dizendo há tempos que este modelo está esgotado. Parece-me, também, que os
políticos estão na retaguarda, esperando entender melhor as manifestações,
temendo aparecer e serem por elas ‘queimados’ em suas pretensões.
Não é fora da história este tipo de massa que vai às ruas. Ela tem o mesmo
perfil: universitários e secundaristas, com origem na classe média, que sentem
perder alguns privilégios ou deixar de obter outros. Numa segunda fase, outros
movimentos poderão entrar. É típico dessa classe não querer aparecer como sendo
política; no entanto, ao sair às ruas estão fazendo política.
Se os governantes não derem resposta convincente, se o Supremo Tribunal
Federal não encerrar o julgamento do Mensalão ou se não conseguirem controlar a
inflação, é imprevisível o que surgirá das manifestações. Baixar passagem não as
mandará para casa porque se atacou o pretexto, não o cerne da doença.
A diferença fundamental dessas passeatas em relação às anteriores é que os
manifestantes estão apontando, claramente, que não pactuam com baderneiros,
dizendo que entendem perfeitamente que até os governantes podem infiltrar nesses
movimentos de rua alguns baderneiros para desmoralizar aquilo que os atinge.
Esta massa é mais inteligente que a de outras épocas, muito menos alienada
que em outras ocasiões. Mas é virtualmente comandada, como sempre ocorreu. São
mais instruídos, destituídos de valores e alguns com características de
‘monstros treinados’ também! É nesse ponto que a educação precisa ser
revista.
Pedagogo e escritor
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