Nelson Motta, O Globo
Discursando para um auditório lotado de políticos, empresários, lobistas e
funcionários, a presidente Dilma advertiu que “esta mensagem direta das ruas é
de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público” e foi aplaudida
entusiasticamente pelos presentes, como se ninguém ali tivesse nada a ver com
isso.
A democracia representativa foi desmoralizada pelos políticos, que a usaram
para representar apenas os seus próprios interesses e de seus partidos, e agora
os jovens gritam nas ruas “o povo unido/sem sigla e sem partido”, e são
aplaudidos pela população. Para não ser vencido, o povo unido precisa estar
representado no poder.
O governo e o Congresso não enfrentam uma urgente e fundamental reforma
politica porque os políticos não querem se mostrar como são: incapazes de chegar
a qualquer acordo no interesse do país — porque só sabem defender seus próprios
interesses e de seus partidos, como uma corporação que se apossou do Estado e o
usa em seu beneficio. Por isso os jovens gritam contra os privilégios dos
políticos. E eles fingem que não é com eles.
Hoje as ruas gritam contra os gastos e roubalheiras da Copa do Mundo, que vai
consumir bilhões de reais e o povo vai ver pela televisão, enquanto os velhos
políticos e as novas elites da era Lula estarão lado a lado na tribuna dos
privilegiados.
Contrastando com o Brasil Maravilha que o embriagador marketing oficial
mostra na TV, pago com dinheiro público, o Brasil real está nas ruas.
As antigas militâncias apaixonadas, hoje amestradas e pagas, babam de inveja
diante da TV, velhos partidos tentam pegar carona no movimento e são
escorraçados. A maioria absoluta dos manifestantes despreza os atuais partidos —
mas exige ser representada, ter voz e direitos respeitados. Novas formas de
pressão e de expressão estão nas praças e no ar.
As cenas que vemos são uma representação dramática da insatisfação dos jovens
com o futuro que os espera, se continuarmos representados pelo que o Brasil tem
de pior, de saqueadores de verbas públicas a vândalos predadores.
No momento, quem me representa é meu neto de 17 anos.
Nelson Motta é jornalista.
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