Ataque a sedes de governos evidencia que eles não se sentem representados
Especialistas consultados pelo GLOBO após os protestos de ontem veem os atos como símbolos da descrença dos jovens em relação aos políticos, reforçando a característica, defendida por inúmeros manifestantes, de que o movimento seja apartidário.
- As autoridades vão precisar negociar com esses jovens. O movimento mostra um desejo de reconhecimento social por grupos que chegaram recentemente às camadas médias e o desejo por participação política. Eles querem serviços tipo Fifa: transporte tipo Fifa, saúde tipo Fifa e por aí vai - diz o sociólogo e professor da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna. - Eles entendem que os partidos estão comprometidos com o estado das coisas. Não é um movimento antipolítico, mas contra a política que aí está.
Para Vianna, o movimento também se opõe à atitude dos políticos com os movimentos sociais. Segundo ele, a relação dos partidos com esses movimentos é "instrumental, de cooptação", ao trazê-los para dentro do Estado. E as atuais manifestações rejeitam ter essa relação.
O sociólogo acredita, ainda, que o grande número de causas defendidas pelos manifestantes - visto por alguns como falta de foco - não é uma fraqueza. Vianna diz que, depois de "baixar a poeira", vai haver uma seleção natural das demandas. Algumas vão aglutinar mais pessoas que outras. Quando chegar esse momento, o sociólogo diz que a necessidade de organização política mais formal vai se impor, e uma liderança deve aparecer.
Para o cientista político e professor da UnB David Fleischman, os ataques aos palácios de governo dificultam que políticos tirem proveito do movimento.
- Quebraram os pés da estátua de Tiradentes no Rio. O ataque a esses palácios mostra que o povo não se vê representado pelos políticos eleitos. Além, é claro, do descontentamento com os serviços. No começo, vi deputados da oposição querendo se apropriar do movimento. Depois da invasão ao Congresso, esse pessoal se calou - diz o cientista político.
Apesar disso, Fleischman está pessimista quanto à sobrevivência do movimento a médio prazo. Para o professor, a ausência de liderança vai fazer com que os protestos percam fôlego. Ele acredita que, com o fim da Copa das Confederações, quando a mídia internacional tirar seus olhos do país, as manifestações se dissiparão.
O analista político e professor da USP Gaudêncio Torquato também vê nos ataques aos palácios um desejo de participação mais ativa no processo político.
- É um puxão de orelha nos políticos. Mostra a indignação, a paciência esgotada desses jovens com as velhas práticas. Os políticos não estão conseguindo atender aos anseios da sociedade - afirma Torquato. - Vejo, nas manifestações, um desejo de resgatar um escopo da democracia direta, indo para a rua.
Os protestos que se alastraram pelo país em grandes cidades foram também tema de um debate on-line realizado ontem pelo GLOBO. O cientista político Fabiano Santos, do Iesp/Uerj, Edney Souza, empresário e professor, e Rômulo Collopy, ativista que tem participado das manifestações no Rio, reconheceram que os protestos tiveram grande importância social e política. Para Fabiano Santos, não é preciso que o cenário seja catastrófico para que a população saia às ruas.
- É uma agenda muito complexa, multicausal. E existem atores insatisfeitos. Uma insatisfação generalizada - diz ele, também atentando para o fato de que, quando a população tem um poder aquisitivo maior, as expectativas são altas. No caso, os serviços prestados pelo Estado são ineficientes.
Edney Souza destacou a inexistência de líderes. Não havia um movimento que carregasse todas as bandeiras. Foram várias reivindicações ao mesmo tempo. Ele vê com otimismo essa nova forma de manifestação, por meio das redes sociais. ( Colaborou Bruno Góes )
Especialistas consultados pelo GLOBO após os protestos de ontem veem os atos como símbolos da descrença dos jovens em relação aos políticos, reforçando a característica, defendida por inúmeros manifestantes, de que o movimento seja apartidário.
- As autoridades vão precisar negociar com esses jovens. O movimento mostra um desejo de reconhecimento social por grupos que chegaram recentemente às camadas médias e o desejo por participação política. Eles querem serviços tipo Fifa: transporte tipo Fifa, saúde tipo Fifa e por aí vai - diz o sociólogo e professor da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna. - Eles entendem que os partidos estão comprometidos com o estado das coisas. Não é um movimento antipolítico, mas contra a política que aí está.
Para Vianna, o movimento também se opõe à atitude dos políticos com os movimentos sociais. Segundo ele, a relação dos partidos com esses movimentos é "instrumental, de cooptação", ao trazê-los para dentro do Estado. E as atuais manifestações rejeitam ter essa relação.
O sociólogo acredita, ainda, que o grande número de causas defendidas pelos manifestantes - visto por alguns como falta de foco - não é uma fraqueza. Vianna diz que, depois de "baixar a poeira", vai haver uma seleção natural das demandas. Algumas vão aglutinar mais pessoas que outras. Quando chegar esse momento, o sociólogo diz que a necessidade de organização política mais formal vai se impor, e uma liderança deve aparecer.
Para o cientista político e professor da UnB David Fleischman, os ataques aos palácios de governo dificultam que políticos tirem proveito do movimento.
- Quebraram os pés da estátua de Tiradentes no Rio. O ataque a esses palácios mostra que o povo não se vê representado pelos políticos eleitos. Além, é claro, do descontentamento com os serviços. No começo, vi deputados da oposição querendo se apropriar do movimento. Depois da invasão ao Congresso, esse pessoal se calou - diz o cientista político.
Apesar disso, Fleischman está pessimista quanto à sobrevivência do movimento a médio prazo. Para o professor, a ausência de liderança vai fazer com que os protestos percam fôlego. Ele acredita que, com o fim da Copa das Confederações, quando a mídia internacional tirar seus olhos do país, as manifestações se dissiparão.
O analista político e professor da USP Gaudêncio Torquato também vê nos ataques aos palácios um desejo de participação mais ativa no processo político.
- É um puxão de orelha nos políticos. Mostra a indignação, a paciência esgotada desses jovens com as velhas práticas. Os políticos não estão conseguindo atender aos anseios da sociedade - afirma Torquato. - Vejo, nas manifestações, um desejo de resgatar um escopo da democracia direta, indo para a rua.
Os protestos que se alastraram pelo país em grandes cidades foram também tema de um debate on-line realizado ontem pelo GLOBO. O cientista político Fabiano Santos, do Iesp/Uerj, Edney Souza, empresário e professor, e Rômulo Collopy, ativista que tem participado das manifestações no Rio, reconheceram que os protestos tiveram grande importância social e política. Para Fabiano Santos, não é preciso que o cenário seja catastrófico para que a população saia às ruas.
- É uma agenda muito complexa, multicausal. E existem atores insatisfeitos. Uma insatisfação generalizada - diz ele, também atentando para o fato de que, quando a população tem um poder aquisitivo maior, as expectativas são altas. No caso, os serviços prestados pelo Estado são ineficientes.
Edney Souza destacou a inexistência de líderes. Não havia um movimento que carregasse todas as bandeiras. Foram várias reivindicações ao mesmo tempo. Ele vê com otimismo essa nova forma de manifestação, por meio das redes sociais. ( Colaborou Bruno Góes )
Nenhum comentário:
Postar um comentário