domingo, 23 de junho de 2013

Te Contei, não ? - As muitas faces de um mesmo homem ?

 
Fernando Pessoa
 
 

 
Fernando Pessoa nasceu no dia 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa. Levou uma vida anônima e solitária e morreu em 1935, vítima de cirrose hepática. Na poesia, porém, sua vida foi repleta de surpresas: foi o maior criador de heterônimos da Literatura, objeto de maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra, e, por isso, é considerado um dos maiores nomes da Literatura Universal.

Ao contrário dos pseudônimos, os heterônimos constituem uma personalidade fictícia, sobretudo de autores. Sendo assim, Fernando Pessoa não só criou outros nomes para assinar seus textos, mas, junto deles, criou suas respectivas biografias. Essa questão resulta de características pessoais referentes à personalidade do próprio Fernando Pessoa: o desdobramento do "eu", a multiplicação de identidades e a sinceridade do fingimento, uma condição que patenteou sua criação literária. Vejamos as principais características de cada um:

Fernando Pessoa (ortônimo)
Tinha uma personalidade com conflitos não solucionados, com inibições de um comportamento sexualmente indeciso, oscilando entre o melindre e a tentação dos sentidos, decepcionado pelo seu corpo material e pelas circunstâncias de vida que o limitavam - era magro, calvo disfarçado pelo chapéu, sem sucesso amoroso, sem carreira profissional, endividado, porém com uma superação na escrita que proporcionou desdobramentos de sua personalidade. Vivia em um processo constante de busca esotérica sobre si mesmo e sobre Portugal.

Alberto Caeiro
É o próprio paganista, mestre dos outros heterônimos, pensava de forma simples, sem questionamentos. Para Caeiro, não há mistérios nas coisas. A alma isolada é inexistente, pois é algo que não se vê. Ela só passa a existir quando se une ao corpo, que é palpável e visível. Cristo existe desde que materializado - Cristo pode ser uma flor... Na poesia, tem uma estética na qual a imperfeição compõe uma obra desarmoniosa, sem preocupação com estética e rimas - é tido como poeta desleixado. A própria natureza é sempre desigual, por isso, para ele, não existe harmonia, as coisas são diferentes umas das outras. Caeiro não se prende a nada - viveu por viver. Para ele, viver é normal.

Álvaro de Campos
Tem a visão multifacetada do real e a crise de identidade é seu marco. Era solitário e depressivo. Viveu tudo na vida intensamente. Possuía a filosofia do niilismo - nada valeu a pena, tudo foi em vão. Expressava tédio por um mundo que não o aceitava, colocava-se com linguagem despida de beleza. Sua poesia era grotesca, formada em um gênero literário desqualificado, sob a finalidade de aliviar-nos a beleza. O seu esforço em conhecer a si próprio fragmenta o seu próprio eu. Mostra-se impotente frente ao real.

Ricardo Reis

Utiliza estilo refinado na forma poética, mediado pela frieza e pelo controle emocional. Oferece reflexão sobre as coisas, define a vida como passageira, vamos morrer um dia - Carpe Diem. É considerado um autor clássico por utilizar figuras mitológicas e vocabulário requintado. Para ele, o que vale é o real visto em sua superfície, apreendido pelos sentidos. Para Ricardo Reis, a religião é pagã (Cristo é só mais um Deus), a natureza é a pluralidade das coisas. O que predomina é a razão sobre a sensibilidade, o homem é impotente perante a morte, sendo incapaz de superá-la.

Observando os três heterônimos, é fácil notar que Fernando Pessoa - autor dotado de enorme singularidade - multiplicou sua voz poética em outras vozes diferentes e as tornou reais dentro no mundo imaginário da Literatura. Como irradiador desse movimento, autodenominou-se um "drama em gente".

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