A efeméride do dia 13 de junho marca o nascimento de um dos maiores poetas da literatura universal, o português Fernando Pessoa, que faz, este ano, seu 124º aniversário. Compreendendo de forma singular seu tempo e nacionalidade – afinal, foi ele que escreveu a famosa frase “a minha pátria é a língua portuguesa” –, o poeta submergiu nos conflitos e angústias da modernidade trazendo à tona uma comunicação clara e uma poesia compreensível, embora ainda haja muito a se entender sobre sua persona, ou melhor, suas personas.
O gênio polivalente levou Fernando Pessoa a exercer várias funções ao longo da vida: foi correspondente de língua inglesa e francesa em diversas firmas de Lisboa, onde nasceu e morreu. Foi também empresário, jornalista, editor, crítico literário, inventor, astrólogo, publicitário e comentarista político. Com isso, toda essa versatilidade pode ter refletido de alguma forma em sua obra literária, pois o poeta se fragmentou em vários heterônimos para compor seus versos, ou seja, ele não só criou autores fictícios, como uma estrutura e estilo próprios para cada um deles, lhes oferecendo vários papéis que viriam a determinar suas personalidades.
O desdobramento do “eu” e a multiplicação de identidades de Fernando Pessoa são objetos de grande parte dos estudos e pesquisas sobre sua vida e obra, a exemplo de Fernando Pessoa: uma quase autobiografia, escrita pelo pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho e publicada pela editora Record em 2011. Pretendendo copiar seu estilo para compor a biografia, o autor reduziu adjetivos e adotou o hábito do poeta ao usar, em média, três vírgulas antes de um ponto final, o que explica o nome excêntrico do livro.
Após oito anos de pesquisa, Cavalcanti terminou se deparando com 127 “Pessoas”. Entretanto, os heterônimos mais conhecidos do poeta são Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Para cada um deles, Fernando Pessoa elaborou uma biografia, um horóscopo e um retrato físico, além de ter esquematizado características ideológicas, morais e intelectuais. Numa carta endereçada a Adolfo Casais Monteiro, em 13 de janeiro de 1935, presente no site da Casa Fernando Pessoa, o poeta afirma que pôs em Caeiro todo o seu poder de despersonalização dramática, em Ricardo Reis toda a sua disciplina mental e em Álvaro de Campos toda a emoção que não ofereceu nem a si mesmo, nem à vida.
Nesta mesma carta Pessoa admite: “Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram”. Através do demiurgo, eles se conheceram e algumas vezes entraram em conflito: são 127 lados de um mesmo homem que, por meio deste derramamento, parece ter procurado e, quem sabe, encontrado a si próprio.
Feliz Aniversário :)
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