sábado, 22 de junho de 2013

Resenhas - Fernando Pessoa

A efeméride do dia 13 de junho marca o nascimento de um dos maiores poetas da literatura universal, o português Fernando Pessoa, que faz, este ano, seu 124º aniversário.  Compreendendo de forma singular seu tempo e nacionalidade – afinal, foi ele que escreveu a famosa frase “a minha pátria é a língua portuguesa” –, o poeta submergiu nos conflitos e angústias da modernidade trazendo à tona uma comunicação clara e uma poesia compreensível, embora ainda haja muito a se entender sobre sua persona, ou melhor, suas personas.
 

                                
O quadro “Fernando Pessoa lendo Orpheu”, pintado pelo português José Sobral de Almada Negreiros, em 1954
 
 
 
 
O gênio polivalente levou Fernando Pessoa a exercer várias funções ao longo da vida: foi correspondente de língua inglesa e francesa em diversas firmas de Lisboa, onde nasceu e morreu. Foi também empresário, jornalista, editor, crítico literário, inventor, astrólogo, publicitário e comentarista político. Com isso, toda essa versatilidade pode ter refletido de alguma forma em sua obra literária, pois o poeta se fragmentou em vários heterônimos para compor seus versos, ou seja, ele não só criou autores fictícios, como uma estrutura e estilo próprios para cada um deles, lhes oferecendo vários papéis que viriam a determinar suas personalidades.
O desdobramento do “eu” e a multiplicação de identidades de Fernando Pessoa são objetos de grande parte dos estudos e pesquisas sobre sua vida e obra, a exemplo de Fernando Pessoa: uma quase autobiografia, escrita pelo pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho e publicada pela editora Record em 2011. Pretendendo copiar seu estilo para compor a biografia, o autor reduziu adjetivos e adotou o hábito do poeta ao usar, em média, três vírgulas antes de um ponto final, o que explica o nome excêntrico do livro.
 
 
                                                                                        


Capa do livro “Fernando Pessoa – uma quase autobiografia”, do pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho
 
 
 
Após oito anos de pesquisa, Cavalcanti terminou se deparando com 127 “Pessoas”. Entretanto, os heterônimos mais conhecidos do poeta são Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Para cada um deles, Fernando Pessoa elaborou uma biografia, um horóscopo e um retrato físico, além de ter esquematizado características ideológicas, morais e intelectuais. Numa carta endereçada a Adolfo Casais Monteiro, em 13 de janeiro de 1935, presente no site da Casa Fernando Pessoa, o poeta afirma que pôs em Caeiro todo o seu poder de despersonalização dramática, em Ricardo Reis toda a sua disciplina mental e em Álvaro de Campos toda a emoção que não ofereceu nem a si mesmo, nem à vida.
Nesta mesma carta Pessoa admite: “Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram”.  Através do demiurgo, eles se conheceram e algumas vezes entraram em conflito: são 127 lados de um mesmo homem que, por meio deste derramamento, parece ter procurado e, quem sabe, encontrado a si próprio.

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