Jovens que lideram o movimento contra aumento de passagens se dizem apartidários
Rio - O movimento contra o aumento de passagem no Rio chamou a atenção não
apenas pelo fato de a população ter voltado às ruas depois de anos de silêncio,
mas também pelo perfil dos líderes, que se definem como apartidários, e a forma
de organização, iniciada na Internet.
A manifestação foi organizada pelo Fórum de Lutas Contra o Aumento das
Passagens, criado no Facebook por estudantes do Ensino Médio e universitários,
aproveitando a mobilização ocorrida na campanha de Marcelo Freixo (Psol) para a
prefeitura do Rio, no ano passado.
Os partidos políticos de oposição aos governos Eduardo Paes e
Sérgio Cabral, no entanto, não ditam os rumos do grupo, que tem entre os
coordenadores (eles não gostam do termo líderes) jovens como Fabrício Silva,
Gabriela de Mattos Machado e Raphael Godoi.
“Não me sinto representado por nenhum partido e não acredito que o comunismo
seja viável. Me defino como de centro-esquerda. Mas sem partido”, ratifica
Raphael, de 16 anos, morador da Tijuca e aluno do Colégio Batista.
Foi ele quem convocou pelas redes sociais o primeiro ato contra o aumento das
passagens, que reuniu 300 pessoas no dia 24 de novembro, em frente à
prefeitura.
“A gestão pública é muito ruim na questão dos transportes. Derrubam
os juros para a classe média comprar carros, mas as ruas estão saturadas. E quem
precisa de transporte público paga caro por um serviço ruim”, argumenta o
jovem.
No ato de quinta-feira, uma voz feminina falava mais alto em meio à
multidão. Era de Priscila Guedes, 23 anos, moradora do Méier e ex-aluna do
Colégio Pedro II. Estudante de História na Unirio, ela, diferente dos amigos, é
filiada ao Psol, mas não partidariza o movimento.
“Temos um interesse comum, que é rever esta política. A passagem aumenta, mas
o salário do motorista, não. E ele ainda tem de fazer a função de cobrador”, diz
Priscila, que discursava enquanto os parlamentares do seu partido, Janira Rocha,
Eliomar Coelho e Renato Cinco estavam junto ao povo.
Dentre os coordenadores do protesto, o único com perfil clássico de
manifestante é Julio Anselmo, que foi candidato a vereador pelo PSTU e integra a
Anel (Assembleia Nacional de Estudantes Livre), alternativa criada à UNE, hoje
governista.
“Por que o aumento da passagem é sempre acima da inflação e o salário, não? É
justo?”, questiona Julio, que estuda Filosofia na UFRJ.
Grupo opina sobre o vandalismo
As cenas de vandalismo na Avenida Presidente Vargas, praticado por cerca de
50 pessoas, foram vistas de maneiras distintas.
“É por isso que eu não acredito no comunismo. Cada um faz o que quer, aí tem
gente que faz aquilo e atrapalha a nossa luta”, diz Raphael Godoi. Julio Anselmo
tem outra opinião: “Aquilo (quebra-quebra) não foi coisa do movimento, mas o
governo faz coisa bem pior”.
Líder da Passeata dos 100 mil, de 68, se une à garotada e avalia
organização
As manifestações na Avenida Rio Branco vêm de longa data. A primeira delas
ocorreu em 1968, em plena ditadura militar, e ficou conhecida como Passeata dos
100 mil. Um dos líderes do movimento caminhou praticamente incógnito junto à
garotada na quinta-feira.
“As diferenças eram muitas. Não havia concentração. Nos reuníamos
rapidamente e caminhávamos na contramão dos carros para evitar que a repressão
chegasse rapidamente”, lembra Cid Benjamin, agora com 64 anos.
Torturado violentamente nos porões da ditadura e exilado do Brasil
por dez anos, Cid lembrou de outras manifestações que mudaram a história do
país, como as Diretas Já, em 1984, e o Fora Collor, em 1992.
O perfil das lideranças também é bem diferente. Em 1968, nomes conhecidos do
cenário político e do movimento estudantil estavam sempre à frente. A única
semelhança vem da classe social.
“A classe média sempre liderou estes movimentos. Desta vez, acho que a falta
de comando definido atrapalhou no fim, permitindo aquele quebra-quebra
injustificável”, opinou.
Jornal O Dia
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