quinta-feira, 20 de junho de 2013

Te Contei, não ? - Tudo começou no Facebook

Jovens que lideram o movimento contra aumento de passagens se dizem apartidários


Caio Barbosa
Rio - O movimento contra o aumento de passagem no Rio chamou a atenção não apenas pelo fato de a população ter voltado às ruas depois de anos de silêncio, mas também pelo perfil dos líderes, que se definem como apartidários, e a forma de organização, iniciada na Internet.
A manifestação foi organizada pelo Fórum de Lutas Contra o Aumento das Passagens, criado no Facebook por estudantes do Ensino Médio e universitários, aproveitando a mobilização ocorrida na campanha de Marcelo Freixo (Psol) para a prefeitura do Rio, no ano passado.
Priscila, 23 anos, era a voz feminina que falava para a multidão no Centro do Rio
Foto:  Carlo Wrede / Agência O Dia
Os partidos políticos de oposição aos governos Eduardo Paes e Sérgio Cabral, no entanto, não ditam os rumos do grupo, que tem entre os coordenadores (eles não gostam do termo líderes) jovens como Fabrício Silva, Gabriela de Mattos Machado e Raphael Godoi.
“Não me sinto representado por nenhum partido e não acredito que o comunismo seja viável. Me defino como de centro-esquerda. Mas sem partido”, ratifica Raphael, de 16 anos, morador da Tijuca e aluno do Colégio Batista.
Foi ele quem convocou pelas redes sociais o primeiro ato contra o aumento das passagens, que reuniu 300 pessoas no dia 24 de novembro, em frente à prefeitura.
“A gestão pública é muito ruim na questão dos transportes. Derrubam os juros para a classe média comprar carros, mas as ruas estão saturadas. E quem precisa de transporte público paga caro por um serviço ruim”, argumenta o jovem.
Raphael, de 16, foi quem convocou pelas redes sociais o primeiro ato
Foto:  Divulgação
No ato de quinta-feira, uma voz feminina falava mais alto em meio à multidão. Era de Priscila Guedes, 23 anos, moradora do Méier e ex-aluna do Colégio Pedro II. Estudante de História na Unirio, ela, diferente dos amigos, é filiada ao Psol, mas não partidariza o movimento.
“Temos um interesse comum, que é rever esta política. A passagem aumenta, mas o salário do motorista, não. E ele ainda tem de fazer a função de cobrador”, diz Priscila, que discursava enquanto os parlamentares do seu partido, Janira Rocha, Eliomar Coelho e Renato Cinco estavam junto ao povo.
Dentre os coordenadores do protesto, o único com perfil clássico de manifestante é Julio Anselmo, que foi candidato a vereador pelo PSTU e integra a Anel (Assembleia Nacional de Estudantes Livre), alternativa criada à UNE, hoje governista.
“Por que o aumento da passagem é sempre acima da inflação e o salário, não? É justo?”, questiona Julio, que estuda Filosofia na UFRJ.
Grupo opina sobre o vandalismo
As cenas de vandalismo na Avenida Presidente Vargas, praticado por cerca de 50 pessoas, foram vistas de maneiras distintas.
“É por isso que eu não acredito no comunismo. Cada um faz o que quer, aí tem gente que faz aquilo e atrapalha a nossa luta”, diz Raphael Godoi. Julio Anselmo tem outra opinião: “Aquilo (quebra-quebra) não foi coisa do movimento, mas o governo faz coisa bem pior”.
Líder da Passeata dos 100 mil, de 68, se une à garotada e avalia organização
As manifestações na Avenida Rio Branco vêm de longa data. A primeira delas ocorreu em 1968, em plena ditadura militar, e ficou conhecida como Passeata dos 100 mil. Um dos líderes do movimento caminhou praticamente incógnito junto à garotada na quinta-feira.
“As diferenças eram muitas. Não havia concentração. Nos reuníamos rapidamente e caminhávamos na contramão dos carros para evitar que a repressão chegasse rapidamente”, lembra Cid Benjamin, agora com 64 anos.
Antiga liderança analisa história dos protestos, como o contra Collor
Foto:  Mário Leite / Agência O Dia
Torturado violentamente nos porões da ditadura e exilado do Brasil por dez anos, Cid lembrou de outras manifestações que mudaram a história do país, como as Diretas Já, em 1984, e o Fora Collor, em 1992.
O perfil das lideranças também é bem diferente. Em 1968, nomes conhecidos do cenário político e do movimento estudantil estavam sempre à frente. A única semelhança vem da classe social.
“A classe média sempre liderou estes movimentos. Desta vez, acho que a falta de comando definido atrapalhou no fim, permitindo aquele quebra-quebra injustificável”, opinou.
 
Jornal O Dia

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