Diretor de ‘Anos Rebeldes’, reprisada no ‘Viva’, admite que a minissérie motivou a juventude a protestar por seus direitos
Rio - Vinte e um anos atrás, os brasileiros saíram de casa — com os rostos
pintados de verde e amarelo — para protestar contra as denúncias de corrupção
atribuídas ao governo Collor e exigir o impeachment do então presidente do país.
Conseguiram. Em 29 de dezembro de 1992, os caras-pintadas comemoraram a renúncia
de Fernando Collor de Mello, hoje senador da República. Na época — entre julho e
agosto de 1992 —, a Globo exibia a minissérie ‘Anos Rebeldes’, cujo mote
principal era o combate dos jovens à ditadura militar. E dizia-se que isso havia
contribuído para a ida dos jovens às ruas.
incidência ou não, ‘Anos Rebeldes’ foi reexibida até sexta-feira no canal a
cabo ‘Viva’. O cineasta Silvio Tendler, um dos diretores da minissérie, admite
que ela motivou a juventude a ir às ruas no Brasil, que agora é palco novamente
de manifestações populares.
“Ajudamos a conscientizá-los. Antes de os famosos caras-pintadas
irem às ruas protestar contra o Collor, fui entrevistado por alguns estudantes,
que disseram: ‘Sua geração é a mais legal e entusiasmada. Vocês eram bons,
lutavam. Nós, nem tanto’. Quinze dias depois, o movimento estourou pelo país”,
lembra Tendler.
O diretor, no entanto, nega que a Globo tenha exibido a minissérie visando
derrubar Fernando Collor da Presidência. “Diferentemente do que se imagina, não
houve armação. Essa crítica não tem nenhum fundamento. A direção da Globo leu o
script da série, achou pesada e decidiu não fazer. Logo depois, acabou
aprovando. Mas não houve tiro certeiro. O impeachment foi efeito do clamor
popular”, diz.
Ele vê semelhanças entre as manifestações atuais e o movimento dos
caras-pintadas. “Naquela época, durante muito tempo, ficaram cobrando da
juventude uma postura. Diziam: ‘Eles não fazem nada. Nossa geração que era
heróica.’ Agora, com a ferramenta que mais usam (internet), eles estão colocando
milhões na rua contra o governo”, observa.
“O momento das passagens foi o estopim. Mas desde o início percebemos que
estão clamando por questões como a corrupção, a reforma agrária e os gastos na
Copa do Mundo”, acredita. “Naquela época, o problema era o governo Collor. O que
está acontecendo agora é que a insatisfação é contra vários governos. Há um
desgaste, uma descrença. É muito mais grave”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário