quarta-feira, 24 de julho de 2013

Artigo de Opinião - Bom - mocismo e oportunismo

O modernismo é iluminista e racionalista, mas taxado, pelo bom-mocismo, de dogmático


O Dia

Rio - O modernismo no Brasil é marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Ano emblemático, dele saiu o movimento tenentista, a Revolução de 30, a brasilidade e o PCB. Grandes empresas de comunicação não foram montadas com o golpe de 1964; apenas chegaram ao poder com os tenentes de 1922.
Modernista, o poeta Manuel Bandeira escreveu estar farto do lirismo comedido; do lirismo bem comportado; do lirismo namorador, político, raquítico e sifilítico; farto de todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo, porque não é lirismo. Apenas contabilidade.
Nestes tempos de pós-modernidade, surge categoria similar ao lirismo repudiado por Bandeira: o bom-mocismo. O modernismo é iluminista e racionalista, mas taxado, pelo bom-mocismo, de dogmático. O bom-mocismo é ‘politicamente correto’, dizendo uma coisa num dia e outra em outro. Sem tese, antítese ou síntese, chama indevidamente suas contradições de dialética.
O bom-mocismo tem se apropriado superficialmente do discurso da psicanálise e da filosofia. É marqueteiro e discurseiro multiúso: descreve tudo abstratamente, mas é escorregadio e incapaz de se posicionar diante de situações concretas. Não há político pior que o bom-moço. É o crápula que sorri para as câmeras, mas sem o script ofende o eleitor ou agride o interlocutor. Igualmente, o juiz bom-moço que é incapaz de decidir e espera que as partes resolvam por si sós os seus conflitos, dizendo estar empoderando o cidadão. Num mundo de incertezas, amplia a insegurança. Mas não abre mão dos ganhos lhe atribuídos para decidir.
O bom-mocismo é mantenedor do status quo, conservador, oportunista e fisiológico. Líquido, não tem solidez. Volátil, não tem núcleo. É light, mas periférico. É incapaz de acelerar processos a partir da atuação desde o olho do furacão.
Quando a polícia sequestrou e matou Mineirinho, Clarice Lispector, sem costear o bom-mocismo, escreveu: “O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno.”

Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia

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