As propostas e projetos bizarros que dominam a pauta do Congresso e afastam ainda mais o planeta Brasília do Brasil
Em um furor legislativo inédito, o Senado aprovou um projeto que transforma em crime hediondo a corrupção e referendou pesadas punições a empresários corruptos. Uma comissão da Câmara avalizou o fim do voto secreto na cassação de parlamentares. rejeitou a proposta que limitava os poderes do Ministério Público e arquivou o projeto que colocava indevidamente o estado brasileiro em meio a uma questão relativa apenas aos psicólogos e seus pacientes gavs. O que houve para que, de repente, o Congresso abandonasse a dimensão quântica em que vive para tratar de assuntos reais? O bafo quente das ruas. Pela primeira vez em muitos e muitos anos, os parlamentares entenderam que, por mais que queiram, eles não trabalham no vácuo. Os brasileiros da planície estão de olho nos mandarins do Planalto. Se as formidáveis manifestações de rua ocorridas nesse junho de 2013 no Brasil forem lembradas no futuro, será pelo efeito gravitacional que exerceram sobre os nefelibatas, tirando-os das nuvens e trazendo-os para o mundo de verdade, onde estão os problemas que afligem os brasileiros que trabalham e pagam impostos escandinavos, recebendo em troca serviços públicos de padrão subsaariano. Isso não era com suas excelências.
A prioridade de deputados e senadores era atender a demandas de minorias barulhentas com suas pautas esquisitas e sem a mínima importância. Um exemplo acabado desses devaneios — ate compreensíveis em países em que os doentes são atendidos nos hospitais, e não largados no chão sem ter ao menos macas para acomodá-los — é um projeto que pretende ""criminalizar a psicofobia". É uma maluquice completa. Para começo de conversa, fobia é medo exagerado e incontrolável que acomete as pessoas. Agora,fobia, por exemplo, é o pavor de estar em lugares abertos. Claustrofobia é o pavor de lugares fechados. Nos casos graves a fobia é uma doença. Registra o dicionário Houaiss no verbete fobia: "estado de angústia, impossível de ser dominado, que se traduz por violenta reação de evitamento e que sobrevem de modo relativamente persistente, quando certos objetos, tipos de objeto ou situações se fazem presentes. imaginados ou mencionados. As fobias são classificadas entre as neuroses de angústia. na teoria clássica das neuroses". Ou seja. qualquer ser humano racional entende que não se pode, portanto, punir as fobias com o Código Penal. Se uma pessoa sofre de "psicofobia" (sic), precisa ser tratada, e não presa e processada. Mas a racionalidade já foi expulsa do debate no Brasil em quase todos os campos. No Congresso Nacional, e não só lá. o debate de ideias vem sendo reduzido a uma combinação esdrüxula e autoritária de "sensações e tentativas de imposição". A modelo da Victoria"s Secret teve filho, amamentou-o e achou "o máximo"? Resultado: a modelo sugere uma campanha mundial para § tomar a amamentação obrigatória por lei, com o conseqüente banimento das mamadeiras. que seriam classificadas na categoria de armas de destruição em massa.
Parte considerável dos projetos nasce da pressão de minorias barulhentas e de interesses inconfessáveis. Pouca gente sabe, mas está em tramitação um projeto de lei de autoria do senador Ivo Cassol (PP-RO) que escancara as portas da corrupção oficial. Cassol quer aliviar a responsabilidade do agente público no ato de corrupção quando ele for fruto de "negligência ou imprudência". É o sinal verde para o roubo descarado. Se com a atual Lei de Improbidade já é difícil punir corruptos, dando a eles a chance de escapar por terem sido apenas imprudentes ou negligentes vai ser "sopa 110 mel". Já passa da hora de tirar 0 mundo oficial do reino da fantasia em que vive.
ELE NAO SE LIXA MAIS
Em 2009,0 deputado Sérgio Moraes tomou-se símbolo nacional do escracho da classe política. Então relator do processo de cassação do deputado Edmar Moreira, pilhado em falcatruas diversas, Moraes caminhava para livrar 0 mandato do colega. Questionado se não temia uma reação popular, respondeu com rara sinceridade: "Estou me lixando para a opinião pública. Vocês batem, mas a gente se reelege". Em 2010, quase 100000 eleitores do Rio Grande do Sul devolveram 0 deputado ao Congresso -11000 a mais do que no pleito anterior. Na semana passada, Moraes falou a VEJA sobre a onda de protestos que tomou as ruas.
O senhor continua se lixando para a opinião pública?
Eu não tive capacidade e inteligência de não cair na provocação de uma jornalista. No caso daquele Edmar Moreira, diziam que eu estava defendendo o cara.
Um dia, no meio de um monte de repórteres, uma jornalista me provocou. Eu, burro, disse: "Quer saber? Estou me lixando pra ti, para a opinião pública, para isso e para aquilo". 0 que saiu de noite no jornal?
Só o "tô me lixando"". 0 resto do que eu disse não saiu nada. Aí deu aquele rebuliço. Sabe 0 que aconteceu? Eu aumentei os meus votos. 0 povo viu que não era verdade.
Qual é a sua avaliação sobre a revolta nas ruas?
Eu já vinha falando dentro do meu grupo que isso estava para acontecer. Não tenho bola mágica, mas a gente ouve a insatisfação na rua. 0 governo da presidente Dilma diz que tá tudo maravilhoso no país, mas nós não temos estrada, a educação é uma das piores da América Latina e a saúde, um caos. 0 povo cansou e a Dilma despencou nas pesquisas.
A classe política está em descrédito?
É culpa da classe política. 0 Congresso vota medida provisória e nada mais. Projetos importantes defendidos pelo povo não andam. A gente passa a semana aqui, gasta passagem, dinheiro público e não consegue produzir nada de interesse do povo.
O senhor assinou a PEC 37, que limitava o poder de investigação do Ministério Público, e depois votou contra ela. O que mudou?
Mudou que o partido nos chamou e nos enquadrou. Disse que era desnecessário 0 PTB ficar exposto em um momento tão delicado.
Nós poderíamos ser apedrejados, mesmo tendo razão. O MP trabalha pouco, então tem tempo para jogar a opinião pública contra a gente. Eles inverteram dizendo que era a PEC da impunidade.
O senhor acha que 0 Ministério Público persegue os políticos?
Claro, porque dá mídia. Tenho vários ranços com 0 Ministério Público. Algum dia 0 MP chamou a imprensa para dizer que está investigando a morte de um pobre? Isso eles não querem. Agora, se for um deputado, um prefeito, eles saem correndo, porque aí dá mídia.
A voz das ruas é importante?
Sempre ouvi as ruas. Nós, políticos, temos de aplaudir os que estão protestando pacificamente. Só acho que a polícia deveria ter baixado 0 porrete nos baderneiros.
Humildemente peço que leia o seguinte artigo:
ResponderExcluirhttp://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed758_o_falso_jornalismo_da_veja
Com maior atenção ao caso sério da manipulação da palavra "psicofobia", que não se trata de um medo e sim de preconceito contra doentes mentais.