quinta-feira, 11 de julho de 2013

Crônicas do Dia - Seda e aço

 

Paulo Nogueira Batista Jr.

 
Aqui nos Estados Unidos, comentaristas de TV referiram-se à “estratégia de seda e aço” da seleção na vitória sobre a Espanha. Nada mais justo, nada mais verdadeiro. Essa combinação insólita de atributos opostos e até contraditórios – arte e força, criatividade e ordem, sutileza e garra – foi a marca da seleção na partida extraordinária contra “o melhor time do mundo”. A Espanha pode bem ser, não nego, o melhor time do mundo, mas verdade seja dita: não viu a cor da bola naquele dia.
Mas não era de futebol que queria falar hoje, e sim da situação política. Eis o que queria dizer: o Brasil inteiro precisa de uma “estratégia de seda e aço”. A comparação é totalmente admissível: afinal, como dizia Nélson Rodrigues, a seleção é a pátria de calção e chuteiras, dando botinadas em todas as direções.
Os elementos dessa estratégia já estão aí. As manifestações de massa devem ser vistas, acredito, como mais um sintoma da vitalidade do país. Os políticos ficaram inseguros, e com razão. E as elites econômicas, é claro, não gostam de ver o povo, nem mesmo a classe média, nas ruas. Quando a massa foi para a rua, a turma da bufunfa rilhava os dentes de pânico.
Mas a presidente Dilma mostrou-se disposta a ouvir e dialogar com os manifestantes. Fez bem de apresentar propostas e, no meu entender, acertou ao colocar o foco na reforma política.
Há duas semanas escrevi, nesta coluna, que as manifestações eram um sinal de crise da democracia representativa em que o mercado domesticou a urna e a política foi colonizada pelo dinheiro. Ainda que os manifestantes não o digam dessa maneira, parece claro que muitos dos problemas que motivam a sua insatisfação – corrupção endêmica, crônica deficiência dos serviços públicos de transporte, educação e saúde – dificilmente serão resolvidos nos marcos do atual sistema político.
Na mensagem que enviou aos presidentes da Câmara e do Senado, a presidente Dilma lançou temas que poderiam, e deveriam, constar de uma consulta popular: financiamento das campanhas, voto proporcional ou distrital, suplentes no Senado Federal, voto secreto no parlamento. Outras questões podem ser incluídas, notadamente a seguinte: deve continuar ou não o direito à reeleição de presidentes, governadores e prefeitos? Não sei se haverá tempo hábil para modificar as regras para as eleições de 2014, mas vale a pena lançar o processo agora com vistas a 2016.
O financiamento das campanhas, por exemplo, é o canal de que se vale o dinheiro para desvirtuar e deturpar as eleições e os processos decisórios. Essa é uma grande, e talvez a principal, fonte da corrupção contra a qual os manifestantes se insurgem.
Muitos querem impedir o plebiscito. Seda e aço neles!

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