Envelhecer é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu
conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é
que existir é muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro.
Muitos acreditam que com a morte se vai desta vida para outra melhor,
inclusive mais barata, além de eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá.
Enquanto isto vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem nenhuma vontade
de experimentar a alternativa.
Mas há casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já
passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a
alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder
mais alto e armado.
Tivemos vinte anos desta alternativa e quem tem saudade dela precisa ser
constantemente lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não havia
era investigação para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia
a Presidência passando de general para general sem consulta popular, repressão
criminosa à divergência, uma política econômica subserviente e um “milagre”
econômico enganador.
Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos quartéis eram lidas
e divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis sobre o “pensamento
militar”, que decidia nossas vidas.
Ao contrario da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma
lição aprendida. E, se para garantir que a alternativa não se repita, é preciso
cuidar para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja.
Melhor uma democracia imperfeita do que uma ordem falsa, mas incontestável.
Da próxima vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma
notícia de Brasília lhe enojar, ou você concluir que o país estaria melhor sem
esses dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus
bolsos, respire fundo e pense na alternativa.
Sequer pensar que a alternativa seria preferível — como tem gente pensando —
equivale a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida — e o
voto.
Luis Fernando Veríssimo é escritor.
Nossa nunca tinha pensado nesse lado de ver :D não sabia que era tão ruim na quela Época para vocês, pensei que era pior hoje em dia!
ResponderExcluirMatheus Tavares
Não sabes de nada caro amigo ,,,
ResponderExcluirEste foi apenas o pricípio da ditadura militar !