terça-feira, 9 de julho de 2013

Te Contei, não ? - Em atos pelo país, médicos critiam governo

Protestos contra a vinda de estrangeiros e por melhores condições de trabalho ocorreram em 25 estados e no DF




Gustavo Uribe
Waleska Borges
RIO E SÃO PAULO

Em oposição à medida do governo federal de trazer estrangeiros para atuarem em regiões carentes do Brasil, médicos, residentes e estudantes promoveram ontem manifestações em 25 estados e no Distrito Federal. A mobilização foi convocada na semana passada por entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB), com o objetivo de pressionar o governo federal a desistir da iniciativa.
No Rio de Janeiro, o ato reuniu cerca de 600 pessoas, segundo a Polícia Militar, ou três mil manifestantes, segundo os organizadores. Os médicos fizeram caminhada até o núcleo do Ministério da Saúde, na Rua México, e terminaram o ato em frente à Assembleia Legislativa. Segundo o presidente dos Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, a pauta de reivindicações incluiu ainda a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para o orçamento da Saúde pública, o que representa cerca de R$ 50 bilhões.
- Estamos denunciando uma grave crise no sistema de Saúde. Muitas pessoas acabam morrendo por falta de assistência. Isso é um verdadeiro genocídio em curso no país. A nossa primeira reivindicação é pela implantação da carreira de Estado para os médicos no sistema público de Saúde. Não há incentivo para esses profissionais permanecerem na rede. Se o médico não vai para o interior, é porque ele não vê condições de se deslocar para essa realidade do Brasil. Nela, a renumeração é baixa e a condição de trabalho é inexistente - explicou Darze.
Em São Paulo, onde cerca de 5 mil manifestantes fecharam a Avenida Paulista, as entidades médicas protocolaram na sede estadual da Presidência da República uma carta endereçada à presidente Dilma Rousseff. No documento, repudiaram a intenção de trazer médicos estrangeiros e acusaram o governo federal de tratar a classe médica como "bode expiatório" para os atuais protestos no país. Os manifestantes pediram ainda a saída do cargo do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Caso as reivindicações não sejam atendidas a médio prazo, as entidades médicas ameaçam promover uma greve geral do setor.
As entidades médicas reconhecem que as mobilizações tiveram impacto ontem na oferta do serviço de Saúde em todo país, mas afirmaram que os atendimentos de urgência e emergência não foram paralisados. E asseguraram que os atendimentos que não foram realizados ontem serão remarcados nos próximos dias. No Rio de Janeiro, de acordo com os organizadores do ato, apenas as consultas eletivas foram suspensas no horário da manifestação. Os outros atendimentos foram mantidos.
- Os atendimentos que não foram realizados por conta das paralisações e protestos serão remarcados para os próximos dias. A intenção não é prejudicar os pacientes, mas denunciar uma realidade no país. O problema da Saúde no Brasil é subfinanciamento, má gestão e corrupção. Os médicos estrangeiros podem vir ao país, desde que os diplomas sejam revalidados - afirmou o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso.
Caso médicos estrangeiros sejam trazidos ao país sem a revalidação do diploma, o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto D"Ávila, ameaça recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). As entidades enviaram um ofício à presidente, pedindo uma audiência sobre o tema. Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Amazonas e Pará foram alguns dos estados com protestos. No Rio Grande do Sul, o secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni, recebeu um grupo de profissionais da saúde no Palácio Piratini.

 

O Globo

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