No sistema prisional os encarcerados se hierarquizam
Rio - Um índio falou-me que a onda negativa que arrasta a presidenta Dilma, o
governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o empresário Eike Batista
decorreu de terem mexido com a Aldeia Maracanã. Já ouvira diversas análises das
manifestações, mas aquela versão era novidade. Discorrendo sobre a importância
do prédio do antigo Museu do Índio, como espaço no qual gerações conviveram e
trataram da cultura indígena, falou sobre seus mitos e transcendência e concluiu
dizendo que quem não respeita seus ancestrais não merece confiança e disto
decorreria a falta de credibilidade na qual se meteram as autoridades e o
empresário. Disse também que os povos originários são a matriz de todos os povos
e ninguém pode matar a mãe.
No sistema prisional os encarcerados se hierarquizam. Homicidas gozam de
prerrogativas, tanto entre demais presos quanto perante carcereiros. Normalmente
são pessoas que desejam cumprir a pena e retomar suas vidas, sem dar maiores
trabalhos. No rabo da hierarquia estão os que cometem crimes sexuais e contra
crianças. Não há lugar para quem comete crime contra a mãe.
Mãe é mito. Os índios do altiplano andino tratam o globo terrestre como
‘Pacha Mama’ e mesmo a divindade católica, mãe de deus, não é representada pelo
ícone colocado no altar. Mas por qualquer monte de terra ou pedra que represente
toda a terra, mãe de todos.
No caso da Aldeia Maracanã, a presidenta Dilma não foi omissa. Ao contrário,
ela apressou a transferência do prédio da Conab para o governo do estado. O
governador Sérgio Cabral mandou sua polícia de madrugada, para a truculência e o
despejo. Subordinados, o Iphan e o Inepac não tiveram a coragem de tombar o
prédio. O prefeito Eduardo Paes rejeitou parecer técnico municipal pelo
tombamento.
Talvez o índio velho tenha razão. As manifestações expressaram falta de
confiança nas instituições e o mercado nas ações do Grupo X. A falta de respeito
às origens é desrespeito ao povo e faz perder credibilidade.
João Batista Damasceno - Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da
Associação Juízes para a Democracia
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