Viviane Nogueira
RIO - Estamos mais alérgicos. No Brasil, estima-se que o aumento de alérgicos entre 1980 e 2010 seja de 50%. Nos EUA a alergia está em quinto lugar no ranking de doenças crônicas e uma em cada cinco pessoas tem alergia ou sintomas de asma. Este problema que atinge 40% da população mundial cresce mais em países desenvolvidos, segundo o alergista e imunologista Mário Geller, membro titular da Academia de Medicina do Rio de Janeiro.
A explicação para o aumento na população alérgica nesses países, segundo ele, tem a ver com limpeza; com o aumento do número de cesáreas (que tiram o bebê diretamente do útero, ambiente protegido, em vez de fazê-lo passar pelo canal vaginal, colonizado por bactérias); e com medicamentos como vacinas e antibióticos — fatores que fazem com que o sistema imunológico fique preguiçoso e, combinados à genética do indivíduo, favorecem a alergia. Com um sistema preguiçoso, qualquer poeirinha funciona como agressão.
— Não há como fugir da genética. Uma mãe com asma e rinite aumenta 45% a 50% a incidência nos filhos, o pai, de 35% a 40% — diz Geller, que lança em agosto, pela editora Elsevier, a segunda edição do livro “Diagnóstico e Tratamento das Doenças Imunológicas”.
Inverno é pior para alérgicos
No inverno as alergias de vias respiratórias, como rinite e sinusite, incomodam ainda mais: o tempo frio e seco machuca a mucosa já inflamada, e o frio úmido traz de volta os ácaros de cobertores guardados desde o inverno anterior. Na semana passada, quando o tempo virou no Rio, o gerente de contas Wagner Oliveira foi três vezes ao hospital por conta de uma sinusite aguda que o deixou com dor de cabeça, testa e nariz latejando. Sem melhorar depois de muitos antibióticos, corticoides e descongestionantes, ele agora decide se vai ou não fazer uma cirurgia para consertar um desvio de septo.
— Minha respiração está tão ruim que tenho tido insônia, uns lapsos de memória, dor de cabeça e estou até engordando porque durmo mal e vivo sem disposição — conta.
A especialista em alergia e imunologia Ana Paula Castro, do Hospital das Clínicas de São Paulo e diretora secretária adjunta da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI), explica que uma cirurgia como esta não cura a alergia, mas melhora a passagem de ar.
— Se o nariz está muito trancado e o septo é torto, a cirurgia melhora um pouco a vida do paciente, mas são duas coisas diferentes.
Hoje a cirurgia de desvio de septo é bem mais simples, dura em média uma hora e meia, é feita por uma câmera que guia o médico por dentro do nariz, com cortes mínimos. Em um mês a recuperação está concluída sem hematomas ou tampões. Já a decisão de fazer ou não a cirurgia depende da localização do desvio.
— Quando o desvio de septo é mais na entrada, na válvula nasal, obstrui a entrada de ar e é um caso mais cirúrgico. Um desvio mais no fim do nariz pode não causar obstrução, mas dá dor de cabeça — explica a otorrinolaringologista Ângela Beatrtiz Lana, que também é médica do sono.
A maioria das pessoas, segundo ela, tem algum grau de desvio. No caso da rinite especificamente, a inflamação faz crescer carnes esponjosas no nariz que contribuem para o bloqueio à passagem do ar. E o nariz muda no decorrer da vida, mas não por causa da alergia, como se pensa.
— Quando se é criança o nariz é mais cartilagem, já adulto essa cartilagem vira osso. Numa criança de dez anos já é possível diagnosticar um desvio de septo, que acontece devido a um trauma ou é genético mesmo — explica.
Novidade sobre reações alimentares
Além das alergias respiratórias, as alimentares estão mais importantes. E com novos estudos. Em Israel, um estudo mostra que a introdução precoce de amendoim na alimentação de crianças causou tolerância, em vez de sensibilização. Em Cingapura, mães, por necessidade, deram crustáceos a bebês de dois meses e isso não causou nenhuma reação.
— Em crianças alergias a leite, clara de ovo e trigo são muito importantes, mas novos estudos mostram que, depois de dois anos, a introdução de alimentos cozidos, como bolo, induzem mecanismos de tolerância — conta Mário Geller, que cita ainda a imunoterapia, feita com a administração de cápsulas dos agentes alérgenos para induzir a tolerãncia.
Os corantes, temidos na década de 80, também já não são ameaça: há cinco anos, depois de vários estudos, ficou provado que não havia reprodutibilidade entre o que era narrado pelo paciente e o que era testado clinicamente. Ou seja, os corantes eram dados a voluntários declarados alérgicos, em diferentes concentrações, alternados com placebos, e a alergia não se manifestava. Pode existir? Segundo Geller sim, mas nada provável.
As principais alergias
Rinite: Inflamação no nariz causa incômodo, crises de espirro e coceira no nariz.
Sinusite: Inflamação no fim do nariz causa dor de cabeça, congestionamento da face e catarro purulento. Pode ser uma consequência da rinite. Crianças sofrem mais porque produzem mais secreção e têm dificuldade de eliminar o catarro.
Bronquite: Inflamação nos brônquios causa tosse e falta de ar. As que têm início na infância podem melhorar na vida adulta.
Cigarro, poeira e perfumes: São agentes agressores que exacerbam os sintomas em pessoas com asma e rinite. Infecções virais, como resfriados, também desencadeiam asma.
Dermatites: Alergias de pele que causam vermelhidão e coceira. Podem melhorar ao longo da vida.
Alergias alimentares: Dependem de predisposição genética e são desencadeadas por vários fatores. As reações que têm início na infância em geral melhoram na vida adulta.
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