sexta-feira, 19 de julho de 2013

Crônica do Dia - A mobilidade de todos nós

A pesquisa foi divulgada em Genebra, uma cidade pacífica. Foi feita pela Transparência Internacional e atesta que mais da metade da população mundial acredita que a corrupção piorou nos últimos dois anos. Quando chega ao Brasil, a pesquisa revela que 81% da população acredita que os partidos políticos são a instituição mais afetada pela corrupção. São 20 pontos percentuais acima do resultado de dois anos atrás. E quase 20 pontos percentuais também acima da média mundial. Nos107 países pesquisados, “só” 65% da população atribui o mesmo problema aos partidos políticos. Ninguém precisa ir a Genebra para saber isso. O recente movimento que levou milhões de pessoas às ruas do Brasil para protestar já anunciava a questão. Houve — e ainda há — quem criticasse as manifestações por elas não terem um alvo específico. Não é verdade. O alvo era — e ainda é — a corrupção. Quando o povo pede um padrão Fifa para a Saúde e a Educação, está denunciando os constantes desvios de verbas que prejudicam essas áreas.

Mas há outra rejeição, também associada à corrupção, incluída nos protestos, que nossas autoridades parecem não perceber. Nas ruas, o povo tem se mostrado contrário aos privilégios (antigamente eram chamados de mordomias) que transformam nossos políticos em casta superior. As recentes denúncias feitas pela imprensa do mau uso de jatinhos e helicópteros por senadores, deputados e governadores pegaram nossas autoridades com as calças na mão e sem argumentos para justificar o exagero. O senador Renan Calheiros, após a denúncia de que usou um jatinho da FAB para ir a um casamento no Nordeste, disse que tinha todo o direito de fazê-lo. Depois, sem muita explicação, voltou atrás, resolveu pagar o que supostamente foi gasto com o privilégio e o povo ficou sem saber se ele ainda acha que tem esse direito ou não.
Mas quem saiu mal mesmo nessa história toda foi o governador Sergio Cabral. Ele nem achou necessário explicar à população a utilização do helicóptero do governo para passar fins de semana em Mangaratiba, no que é conhecido como “voo das babás”. Mas não conseguiu evitar os repórteres após uma audiência com o ministro das Cidades e teve que gaguejar uma ou outra justificativa.
“Muitos têm até aviões, coisa que o governo do Rio não tem. Trata-se da mobilidade de o governador pegar o helicóptero, ir para a sua casa e voltar, quando a casa é fora da cidade do Rio. Não sou o primeiro a fazer isso no Brasil”, disse, acuado. Agora, me explica, por que “os outros” fazem, ele se acha no direito de fazer? Tem explicação mais infantil? Parece um filho caçula pondo a culpa no irmão mais velho ao explicar o mau comportamento para o pai severo. "Mas ele também faz!”. É quase um escárnio o governador dizer para a população que precisa de mobilidade quando seu governo não consegue (ou não quer) melhorar a precária situação das barcas que unem o Rio a Niterói ou transformar o metrô num transporte útil. “Rodo o estado inteiro nas aeronaves”, acrescentou. Eu só queria saber qual foi a última vez que Sergio Cabral usou seu helicóptero para ir a Porciúncula.


Artur Xexeo - O Globo
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Não há nada de novo no discurso dos políticos depois de o povo ter ido à rua reclamar contra eles. A não ser a substituição da expressão “transporte público” por “mobilidade urbana”.
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Minha faixa de protesto preferida foi vista na manifestação Ocupe Delfim, antes de o governador Sergio Cabral desfazê-la na calada da noite. Dizia: “Se a propaganda enganosa é crime, então por que existe horário político?” Eu apoio.
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É o que se pode chamar de uma atitude feliciana. O Teatro Municipal Trianon, de Campos de Goytacazes, cancelou a apresentação do espetáculo “Bonitinha mas ordinária”, do Grupo de Teatro Oito de Paus, que estava agendada para agosto. De acordo com um dos atores do grupo, Rodrigo Vahia, a justificativa que a direção do teatro deu por e-mail para o cancelamento da peça de Nelson Rodrigues é que ela “poderia ofender a prefeita Rosinha Garotinho, que é evangélica”. E tem gente que acha que a prefeita é bonitinha.
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Ao escrever sobre o livrinho "Um voluntário da pátria", de Zuenir Ventura, no último domingo, atribuí ao general Amaury Kruel o cargo de ministro da Guerra no dia 31 de março de 1964. Kruel, na verdade, era o comandante do II Exército. Que fique claro: o erro foi meu, não do Zuenir. E a meu favor há o fato de que, até o ano anterior, Kruel tinha sido, de fato, ministro da Guerra de Jango.
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Afinal, o que fazem os jatinhos da FAB quando não estão a serviço dos Calheiros e dos Alves?
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Por falar nisso, que fim levou o presidente Lula?

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