domingo, 14 de julho de 2013

Te Contei, não ? - O fim da bolsa Eike

Veja - 08/07/2013
 
 
O colapso do grupo de Eike Batista revela o custo do apoio bilionário do BNDES às empresas queridinhas do governo. Eles fazem graca e quem paga a conta são os brasileiros que trabalham cinco meses do ano para custear o estado perdulário
A queda espetaculosa do grupo de Eike Batista coincide, não por acaso, com a apatia da economia brasileira. Não que se possa atribuir a crise de suas empresas à falta de empenho do governo. Pelo contrário. Se é verdade que o empresário soube se aproveitar da onda de euforia com o país a partir de 2007 para angariar investidores privados dispostos a bancar os seus planos ambiciosos, também é fato que ele sempre se valeu das boas relações com os políticos no poder. Ele foi um dos escolhidos pelo governo na estratégia de apoio às campeãs nacionais, empresas que já se destacavam em sua área de atuação, mas queriam exercer um domínio ainda maior. Eike sempre integrou o seleto grupo de empresários com portas abertas no Palácio do Planalto. Embora não fosse exatamente um campeão nacional (suas companhias reluziam mais pela promessa do que pelos resultados), não lhe faltaram apoio nem dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os empréstimos para as empresas “X“ totalizam 10,4 bilhões de reais, sem contar participações acionárias que o banco possui em cinco companhias do empresário e que eram avaliadas na última terça-feira em 550 milhões de reais. Outros gigantes se beneficiaram do apoio do banco: o grupo de carnes JBS, a BRF (formada pela união entre a Sadia e a Perdigão), a Oi e a Fibria, para ficar nos casos mais vultosos. Em todas as operações, o governo ainda não explicou que benefícios serão revertidos para os brasileiros. Os custos, porém, são assustadores. Desde 2007, para ampliar a concessão de crédito, o governo intensificou a transferência de recursos do Tesouro para os bancos estatais. O maior beneficiário foi justamente o BNDES . O reflexo se dá no crescimento da dívida bruta, que passou de 1,5 trilhão de reais para 2,7 trilhões de reais.  "O modelo de fortalecimento dos bancos públicos não vai nos levar a uma trajetória de crescimento mais acelerado e sustentável, capaz de não gerar desequilíbrios econômicos e financeiros nem socioambientais”, diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e hoje sócio da Gávea Investimentos. Em abril, o governo avaliou como ajudar as empresas de Eike, mas não chegou a um plano de ação. As chances foram sepultadas nas últimas semanas. “As manifestações populares mostraram que o povo está cada vez mais consciente do chamado ‘custo de oportunidade" do capital estatal, ou seja, sabe que o dinheiro destinado a empresas pode ser mais bem aplicado”, afirma Sérgio Lazzarini, professor do Insper.
O suporte aos grandes grupos contrasta com a falta de ação governamental para desatar os nós que atravancam o crescimento. O país custa a engrenar uma retomada sustentada porque os fundamentos estão fragilizados. A inflação segue em níveis elevados (em junho, chegou a 6,7% em doze meses, acima do teto da meta), o setor público tem gastos improdutivos demais e investimentos de menos, o mercado de trabalho carece de qualificação e faltam estímulos aos projetos privados. As condições oferecidas a quem empreende permanecem impróprias: o Brasil proporciona apenas o 130° melhor ambiente de negócios no mundo, entre 185 economias avaliadas pelo Banco Mundial. Há regras demais, que se traduzem em tempo e dinheiro jogados fora. Enquanto o governo não resolver os entraves que afetam toda a economia, apoiar as grandes empresas nunca será suficiente.

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