sábado, 6 de julho de 2013

Resenhando - A era disco ganha um novo balanço

Embalos. A cantora americana Gloria Gaynor, a voz do hit “I will survive”, em cena do documentário “The secret disco revolution”: surpresa com o rótulo de “revolucionária” Foto: Fotos de divulgação


 
RIO — Em tempos inflamados, é um bálsamo pensar num levante pacífico, embalado por música e festa, com os manifestantes usando roupas coloridas e extravagantes, fazendo passos de dança sob um globo de luz giratório. No filme “The secret disco revolution”, que entra em cartaz nos Estados Unidos no próximo fim de semana, ícones de canções internacionais de mudanças e protesto — como Marvin Gaye (“What’s going on”), Sam Cooke (“A change is gonna come”) e Bob Dylan (“Blowin’ in the wind”) — sequer entram em cena. Em vez disso, ganham um inesperado cartaz artistas como Gloria Gaynor (“I will survive”), Thelma Houston (“Don’t leave me this way”), Donna Summer (“Love to love me baby”), Chic (“Good times”) e Village People (“Macho man”).
Contrário ao machismo do rock
Na visão do diretor canadense Jamie Kastner, esses são alguns dos nomes de frente da “revolução secreta” que aconteceu nos anos 1970 e, na batida da disco music, ajudou a “liberar” (ao menos nos EUA) gays, latinos, negros e mulheres, num universo até então dominado pelo machismo e pela falta de cintura do rock anglo-saxão. No longa, essa inusitada e curiosa tese — que surge justamente no momento em que a era disco é celebrada pelo Daft Punk, com o badalado disco “Random access memories” — é defendida por gente como o jornalista Peter Shapiro (autor do livro “Turn the beat around — The secret history of disco”) e a historiadora Alice Echols (que escreveu o livro “Hot stuff: Disco and the remaking of american culture”).
— Essa tese foi uma surpresa para mim também, uma agradável surpresa, eu diria. Cheguei a ela quando comecei a ler o livro de Peter (Shapiro) e de Alice (Echols), que me despertaram o desejo de fazer esse filme — conta Kastner, um ex-crítico musical. — E, quanto mais eu ia pesquisando e conversando com algumas pessoas, essa ideia foi se fortalecendo. Até então, só pensava na disco como uma música alienada.
De fato, o gênero, que teve seu apogeu na segunda metade dos anos 1970, sempre foi considerado escapista, não revolucionário. Mas, por meio das entrevistas com figuras chave da disco — como Nick Siano, DJ do lendário Studio 54, o colunista Michael Musto, do “Village Voice”, e artistas como KC (do KC and The Sunshine) e The Tramps (do hit “Disco inferno”), além das próprias Gloria e Thelma, quase todos surpresos com o rótulo de “revolucionários” —, Kastner vai traçando um outro painel, mostrando que, de fato, a disco serviu como combustível para que um novo perfil de público entrasse na dança. Alice chega ao ponto de dizer que “Love to love you baby” foi “um hino feminista contra o sexo de três minutos” (a sensual música de Donna Summer tem 20 minutos de duração).
— A maior parte dos artistas que entrevistei para o filme não tinha noção desse papel que agora está sendo atribuído a eles, mas todos concordaram que aquela época foi muito subestimada em termos de mudanças de atitudes e valores — conta o diretor.
Curiosamente, em “The secret disco revolution” — elogiado pelo jornal “The Guardian” e pela revista “Rolling Stone” —, o tom dissonante vem dos integrantes do Village People. Embora admitam, orgulhosamente, terem se tornado marcos da libertação sexual do período, eles não se assumem como ícones gays.
— Isso eu realmente não entendi — admite Kastner.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/a-era-disco-ganha-um-novo-balanco-8784768#ixzz2YH8MbaRj

Nenhum comentário:

Postar um comentário