As empresas de ônibus financiam os políticos, são por eles recompensadas e quem paga a conta é o usuário. Investigações de fraudes no setor atingem hoje nove capitais.
Alexandre Aragão
Alexandre Aragão
Se as empresas de ônibus que atuam nas principais cidades brasileiras nunca foram reconhecidas pela qualidade dos serviços que prestam aos usuários, o mesmo não se pode dizer do tratamento que seus donos dedicam aos políticos. Tradicionais financiadores de campanhas, os empresários do ramo são pródigos no atendimento, pontual e generoso, aos candidatos a prefeito de todos os partidos. Em troca, costumam receber dos eleitos uma fiscalização leniente e vista grossa para planilhas suspeitas. Atualmente, há investigações sobre fraudes que envolvem empresas de ônibus em pelo menos 60 cidades, incluindo nove capitais. O tipo mais comum de logro é a contratação em processos de licitação com cartas marcadas.
Uma dessas investigações está em curso no Tribunal de Contas do Distrito Federal e envolve dois titãs do setor as famílias Constantino e Canhedo. Os dois patriarcas, Nenê Constantino e Wagner Canhedo — que oferece serviço de ônibus desde antes da fundação de Brasília — têm histórias semelhantes: enriqueceram com seus ônibus velhos e lotados e, mais tarde aplicaram os lucros e os métodos do negócio em empresas aéreas. Canhedo, da falida Vasp, foi um dos derrotados numa recente disputa pelos ônibus de Brasília e passou a denunciar as suspeitas de ilegalidade que recaem sobre o rival.
Nos últimos seis meses, cinco empresas foram escolhidas para cuidar do transporte rodoviário da cidade por um período de dez anos ao preço de 8 bilhões de reais. No edital, o Distrito Federal foi dividido em cinco lotes, cada um a ser operado por um grupo. Somente cinco empresas foram habilitadas — exatamente o número das áreas em disputa e exatamente as que ofereciam preços quase colando no teto. As outras doze concorrentes foram eliminadas antes da abertura dos envelopes com as propostas. Uma das ofertas rejeitadas previa uma tarifa 59 centavos mais baixa do que a vencedora.
A licitação foi conduzida pelo governo do DF em parceria com um escritório de advocacia particular de Curitiba — o Guilherme Gonçalves & Sacha Reck Advogados Associados. E aí começa um cipoal de relações curiosas. Um dos sócios do escritório doou 35.000 reais à campanha ao Senado da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann — que, depois de eleita, contratou o mesmo escritório e o pagou com verbas de seu gabinete no Senado. A ministra já declarou que a contratação não configura nenhuma irregularidade — o que formalmente, é verdade. Além das relações com o alto petismo o escritório de Sacha Reck já trabalhou para o grupo de Nenê Constantino o que não foi considerado impedimento para que participasse da condução da licitação. Do lado do governo, o presidente da comissão de licitação é Galeno Furtado, ex-braço-direito de Durval Barbosa, o delator do esquema de corrupção no governo de José Roberto Arruda. As denúncias de Durval levaram à renúncia de Arruda e abriram caminho para a ascensão do atual governador. Agnelo Queiroz, também do PT. Os barões da catraca e seus padrinhos: eis um bom tema para os próximos cartazes dos manifestantes.
Revista Veja
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