domingo, 8 de julho de 2012

Crônica do Dia - O mar pede socorro - Vilfredo Schurmann


Sempre tratamos o mar, nosso fundo de quintal, com cuidado. Em nossas viagens, o lixo produzido a bordo é colocado em sacos e, na primeira ilha em que ancoramos, o levamos para reciclagem. Nos lugares que não têm programa de reciclagem, optamos por incinerar o lixo. Em 1993, quando navegamos pelo arquipélago de Vanuatu, na Polinésia, com 83 ilhas e 110 dialetos, conhecemos Bryan Peterson, um americano paramédico que realizava uma expedição inédita: a primeira volta ao mundo num barco inflável usando óleo de soja como combustível. Era a Sunrider Expedition, com o patrocínio de 130 empresas públicas e privadas de 14 países.
Em Darwin, na Austrália, reencontramos o capitão Peterson em sua missão ecológica. Ele procurava um barco para dar apoio logístico à travessia do Oceano Índico em direção à África do Sul, que incluía o transporte do óleo de soja. Depois de um jantar a bordo do Aysso, aceitamos entusiasmados participar do projeto. Abastecemos o veleiro com 2.250 litros de óleo de soja, que ficavam armazenados em tonéis de plástico dentro do barco, espalhados nas cabines, no corredor e na sala. Andar pelo barco, que já era difícil por causa do espaço reduzido, ficou ainda pior. O cheiro lembrava a cozinha de um restaurante chinês. Percorremos 12.000 quilômetros seguindo o pequeno bote inflável do capitão Peterson. Foi uma experiência fascinante e hoje, após quase duas décadas, a Sunrider Expedition ainda é referência como ação relevante para a conscientização ambiental no mundo.
Durante nossa última circum-navegação, desenvolvemos programas de educação ambiental com escolas do Brasil e de outros 44 países. Foram enviados dados sobre os projetos ambientais dos países visitados pela expedição. Transmitimos ao vivo imagens das experiências realizadas no fundo do mar para escolas públicas e particulares. O projeto foi acompanhado por professores na área de educação ambiental, biólogos marinhos e oceanógrafos. Em 1997, fundamos, em Santa Catarina, o Instituto Família Schürmann, com o objetivo de realizar projetos e programas de educação ambiental, especialmente destinados à conservação e ao uso sustentável dos ecossistemas marinhos e costeiros.
Nós, que vivemos do mar, nunca nos esquecemos dele. Agora, a Rio+20 é uma boa oportunidade para lembrarmos a todos que o mar respira com dificuldade. A poluição dos oceanos está em níveis insuportáveis. Hoje, 80% dos estoques de peixes estão ameaçados. A sobrevivência do homem na Terra está diretamente ligada à preservação do planeta água. Todos precisam cuidar dele.
Vilfredo Schürmann é economista, palestrante e capitão do veleiro Aysso, da Família Schürmann, que deu a volta ao mundo duas vezes, de 1984 a 1994 e de 1997 a 2000

Re vista Época

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