RIO - Mal iluminado, com cheiro de urina, todo pichado e, dependendo da hora, abrigo de usuários de crack, o Túnel Alaor Prata não poderia ser um pior cartão de visitas para quem chega a Copacabana via Botafogo. Relegado hoje a segundo plano até no nome — é mais conhecido pela alcunha de Túnel Velho — ele foi o responsável por romper o isolamento da área praiana escondida por montanhas. Tanto que sua abertura, em 6 de julho de 1892, acabou virando a data oficial do “nascimento de Copacabana”.
Com 180 metros de extensão, ele foi inaugurado pelo vice-presidente da República, Marechal Floriano Peixoto, com pompa e circunstância após uma obra que demorou cerca de um ano e foi cercada por problemas. Além da dificuldade de se obter dinamite, diversos operários contraíram febre amarela e varíola. Trezentos e quarenta e quatro contos e 352 mil réis depois, o túnel ficou pronto para a passagem dos bondes, possibilitando o início da urbanização de Copacabana.
Mas não foi fácil convencer os cariocas a pagar a passagem e ir conhecer as terras até então isoladas. Para estimular o povoamento do bairro, a Companhia Jardim Botânico, concessionária responsável pelas linhas de bondes da Zona Sul e que construiu o túnel, promovia mensalmente festas com leilões e sorteios no bairro. Além disso, destacava as qualidades da região até nos bilhetes dos bondes, que pregavam “Pedem vossos pulmões ar salitrado/ Correi antes que a tísica os algeme/ Deixai do Rio o centro infeccioso/ Tomai um bonde que vai dar ao Leme”.
Não se sabe se a propaganda deu certo ou se a paisagem foi pouco a pouco conquistando os moradores de outros bairros, mas, no início do século passado, já existiam cerca de 500 casas no bairro.
Morador daquela época é claro que não existe mais. Mas repórteres do GLOBO conversaram com a advogada Norah Levy, que conheceu uma Copacabana balzaquiana. Ela se mudou para o bairro na década de 20, ainda criança, e, esta semana, aos 90 anos, relembrou passagens da história do bairro.
Cada morador do Rio tem uma Copacabana no coração — que pode ser a dos chás da Confeitaria Colombo, a dos sorvetes do Moraes, a do Beco das Garrafas, berço da Bossa Nova, ou a do Clube dos Cafajestes, turma que marcou época nos anos 1940 e 1950. Mas poucos têm a Copacabana de Norah:
— Quando menina, andava de bicicleta na Figueiredo Magalhães. Eram só casas e a praia.
Para quem passa hoje pela movimenta esquina, é difícil acreditar. Ainda mais surpreendente é outro momento de lazer de dona Norah:
— A Avenida Copacabana era muito esburacada. Quando chovia, pegávamos o maiô e íamos tomar banho dentro dos buracos. Era como se fossem piscinas. Não muito fundas nem largas, mas o suficiente para uma farra das crianças.
Domingo à tarde, o programa de dona Norah e de todas as famílias do bairro era o mesmo: assistir “filmes em série”:
— Cada domingo passava um pedaço. No geral, interrompiam quando a mocinha estava amarrada aos trilhos do trem. Ficávamos aflitas esperando a semana seguinte.
Para comprar mantimentos ou roupas, dona Norah ia com a mãe ao Centro . Em Copacabana, havia poucos armazéns. Histórias como as dela vão fazer parte do livro sobre o bairro que será lançado ano que vem por George Ermakoff:
— Vamos contar a história do bairro, com fotos que mostram a urbanização de Copacabana, com imagens das famílias — diz o editor
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