"Sua voz soa clara em suas
palavras fortes denunciando sem medo as atrocidades feitas aos escravos. "Era um
sonho dantesco... O tombadilho que das luzernas avermelha o brilho, rm sangue a
se banhar,tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a
noite horrendos a dançar... " Castro Alves se agiganta diante do Império
divinizando os ventos liberais da República.""
Ana Marly de Oliveira Jacobino
A data do seu
nascimento 14 de Março é agora comemorado o
"Dia da Poesia" justa homengem ao Poeta Castro Alves o nosso maior
"Condoreiro".
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 14
de Março de 1847 na fazenda Cabaceiras, a sete léguas (42 km) da vila de Nossa
Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje denominada Castro Alves
, no estado da
Bahia.
Suas
poesias mais conhecidas são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como "Poeta dos
Escravos".
Poesia e Saraus:
Junto ao seu pai assistiu muitas reunióes literárias e esta atmosfera literária,
produzida pelos oiteiros, ou saraus, festas de arte, música, poesia,
declamação de versos entraram na sua alma com uma força descomunal e deste modo
aos 17 anos fez as primeiras poesias. No dia 10 de novembro de 1863 teria
recitado os primeiros versos em festa no Ginásio Português
Castro Alves escreve para a sua mãe de leite (Mucama)
Leopoldina:
Junto ao
fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição,
E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado,
Se das palhas do telhado
Ruge o vento do sertão.
Em 1858 o Dr. Alves (pai de Castro Alves) reconstrói o solar da chácara Boa
Vista. Pretende que a sua esposa, exausta mãe de seis filhos, saúde frágil, ali
repouse e ganhe forças. Em vão. D.
Clélia falece em 1859. Um desgosto e um problema: criar e educar seis filhos.
Três anos depois o seu pai se casa pela segunda vez em 24 de janeiro de 1862
com a viúva Maria Rosário Guimarães. No dia seguinte ao do casamento, o poeta e
seu irmão Antônio José partiram para o Recife, enquanto o pai se mudava para o
solar do Sodré. Começa a
frequentar o Teatro Santa Isabel. Fica fascinado por Eugénia Câmara, a Dama
Negra, a actriz portuguesa que, de forma gaiata, domina o palco.
Recorda-te do pobre que em silêncio
De ti fez o seu anjo de poesia,
Que tresnoita cismando em tuas graças,
Que por ti, só por ti, é que vivia,
Que tremia ao roçar do teu vestido,
E que por ti de amor era perdido...
Recorda-te do pobre que em silêncio
De ti fez o seu anjo de poesia,
Que tresnoita cismando em tuas graças,
Que por ti, só por ti, é que vivia,
Que tremia ao roçar do teu vestido,
E que por ti de amor era perdido...
Castro Alves Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos
vivos, negra e basta cabeleira, voz possante, dons e maneiras que impressionavam
a multidão, impondo-se à admiração dos homens e arrebatando paixões às mulheres.
Ocorrem então os primeiros romances, que nos fez sentir em seus versos, os mais
belos poemas líricos do Brasil. No dia 17 de maio, de 1863 Castro Alves
publicou no primeiro número de A Primavera seu primeiro poema contra a
escravidão: A canção do africano. A tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma
primeira hemoptise.
Teve fase de
intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma,
social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração
política dos liberais mais exaltados. Data de 1866 o término de seu drama
Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado na Bahia e depois em São Paulo, no
qual conseguiu consagrar as duas grandes causas de sua vocação. No dia 29 de
maio, resolveu partir para Salvador, acompanhado de Eugênia. Na estreia de
Gonzaga, dia 7 de setembro, no Teatro São João, foi coroado e conduzido em
triunfo.
Em janeiro de 1868, embarcou com Eugênia Câmara para o Rio de Janeiro, sendo
recebido por José de Alencar e visitado por Machado de Assis. A imprensa publica
troca de cartas entre ambos, com grandes elogios ao poeta. Em março, viajou com
Eugênia para São Paulo. Decidira ali - na Faculdade de Direito de São Paulo -
continuar seus estudos, e se matriculou no terceiro ano.
Continuou principalmente a
produção intensa dos seus poemas líricos e heroicos, publicados nos jornais ou
recitados nas festas literárias, que produziam a maior e mais ruidosa impressão;
tinha 21 anos, e uma nomeada incomparável na sua geração, que deu entretanto os
mais formosos talentos e capacidades literárias e políticas do Brasil; basta
lembrar os nomes de Fagundes Varela, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Afonso Pena,
Rodrigues Alves, Bias Fortes, Martim Cabral, Salvador de Mendonça, e tantos
outros geniais literatos.
Em 7 de setembro de 1868, fez a apresentação pública de Tragédia no mar, que depois ganharia o nome de
"O Navio Negreiro".
Tragédia no mar, começa com
uma longa e belíssima descrição do oceano, até que o poeta, postado nas alturas,
avista um barco que parece navegar alegremente. Então o poeta solicita ao
albatroz ("águia do oceano") que lhe dê suas asas para se aproximar da
embarcação. Ao mergulhar por sobre o navio, descobre a realidade em todo o seu
horror.
As cenas que se
sucedem são impressionantes: a violência opressiva dos traficantes; as
interpelações exasperadas do poeta, tanto a Deus quanto às forças mais
grandiosas da natureza; o repúdio à bandeira nacional que cobre tanta
iniqüidade; e, por fim, o apelo aos heróis do Novo Mundo para que dêem um basta
à espantosa tragédia: Era um sonho dantesco...O
tombadilho
Que das luzernas avermelha o
brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar...
Negras mulheres suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães.
Outras, moças... mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala
E voa mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali ...
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri...
No entanto o capitão manda a manobra...
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz, do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar." (...)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Com a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! (...)
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! mas que bandeira é esta
Que impudente* na gávea tripudia?! ...
Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto,
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!... (...)
...Mas é infâmia demais... Da etérea plaga*
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!"
O poeta é levado para a Capital em Maio de 69. Fica hospedado na casa do seu amigo Cornélio dos Santos.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar...
Negras mulheres suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães.
Outras, moças... mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala
E voa mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali ...
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri...
No entanto o capitão manda a manobra...
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz, do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar." (...)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Com a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! (...)
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! mas que bandeira é esta
Que impudente* na gávea tripudia?! ...
Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto,
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!... (...)
...Mas é infâmia demais... Da etérea plaga*
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!"
O poeta é levado para a Capital em Maio de 69. Fica hospedado na casa do seu amigo Cornélio dos Santos.
Amputação do pé, porém
a frio, o seu estado de fraqueza desaconselha o uso do clorofórmio. Galhofa é o
escudo contra a dor:
- Corte-o, corte-o,
doutor... Ficarei com menos matéria do que o resto da Humanidade.
Valem depois ao poeta
os muitos amigos que o cercam durante a longa convalescença. Em 17 de Novembro
de 69: Castro Alves enfia a perna esquerda num botim recheado de algodão, assim
disfarça o defeito.
Apoiado numa muleta,
aí vai ele assistir a um espectáculo de Eugénia Câmara no Teatro Fénix
Dramática. Os dois antigos amantes têm ainda uma troca de palavras. Dessa última
conversa sobram versos, apenas:
Quis te odiar, não pude. –
Quis na terra
Encontrar outro amor. – Foi-me impossível.
Então bem disse a Deus que no meu peito
Pôs o germe cruel de um mal terrível.
Sinto que vou morrer! Posso, portanto,
A verdade dizer-te santa e nua:
Não quero mais o teu amor! Porém minh’alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
Uma semana depois embarca para a Bahia. Doente, e aleijado, o poeta retorna a casa. Sua última aparição em púbico foi em 10 de fevereiro de 1871 num sarau beneficente. Morreu às três e meia da tarde, no solar da família no Sodré na cidade de Salvador na Bahia em 6 de julho de 1871.
ALMEIDA, Norlandio Meirelles. "Cronologia de Castro Alves", Editora D.Pedro II, Guarulhos, 1960.
BARBOSA, Rui. Decenário de Castro Alves, elogio do poeta pelo Dr. Rui Barbosa, seguido de um escrito do mesmo autor pelos escravos às mães de família, Mandado imprimir pela comissão do decenário, Bahia, Typografia do "Diário da Bahia", 1881.
BOAVENTURA, Edivaldo. Estudos sobre Castro Alves, Edfba, Egba, Salvador, 1996.
BOSI, Alfredo. "Sob o signo de Cam" in Dialética da colonização, Companhia das Letras, São Paulo, 1992.
CUNHA, Euclides da. Castro Alves e seu tempo, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1907.
DANTAS, Mercedes. O Nacionalismo de Castro Alves, Editora A Noite, Rio de Janeiro, 1941.
AMADO, Jorge. ABC de Castro Alves: louvações, São Paulo, Livraria Martins Editora, 1941.
AZEVEDO, Vicente de Paulo Vicente de. O Poeta da liberdade, São Paulo, Clube do Livro, 1971.
BARROS, Frederico Pessoa de. Poesia e vida de Castro Alves, Editora das Américas, São Paulo, 1962. Castro Alves na página da Academia Brasileira de Letras
Encontrar outro amor. – Foi-me impossível.
Então bem disse a Deus que no meu peito
Pôs o germe cruel de um mal terrível.
Sinto que vou morrer! Posso, portanto,
A verdade dizer-te santa e nua:
Não quero mais o teu amor! Porém minh’alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
Uma semana depois embarca para a Bahia. Doente, e aleijado, o poeta retorna a casa. Sua última aparição em púbico foi em 10 de fevereiro de 1871 num sarau beneficente. Morreu às três e meia da tarde, no solar da família no Sodré na cidade de Salvador na Bahia em 6 de julho de 1871.
ALMEIDA, Norlandio Meirelles. "Cronologia de Castro Alves", Editora D.Pedro II, Guarulhos, 1960.
BARBOSA, Rui. Decenário de Castro Alves, elogio do poeta pelo Dr. Rui Barbosa, seguido de um escrito do mesmo autor pelos escravos às mães de família, Mandado imprimir pela comissão do decenário, Bahia, Typografia do "Diário da Bahia", 1881.
BOAVENTURA, Edivaldo. Estudos sobre Castro Alves, Edfba, Egba, Salvador, 1996.
BOSI, Alfredo. "Sob o signo de Cam" in Dialética da colonização, Companhia das Letras, São Paulo, 1992.
CUNHA, Euclides da. Castro Alves e seu tempo, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1907.
DANTAS, Mercedes. O Nacionalismo de Castro Alves, Editora A Noite, Rio de Janeiro, 1941.
AMADO, Jorge. ABC de Castro Alves: louvações, São Paulo, Livraria Martins Editora, 1941.
AZEVEDO, Vicente de Paulo Vicente de. O Poeta da liberdade, São Paulo, Clube do Livro, 1971.
BARROS, Frederico Pessoa de. Poesia e vida de Castro Alves, Editora das Américas, São Paulo, 1962. Castro Alves na página da Academia Brasileira de Letras
texto muito interessante ! [dedé]
ResponderExcluir