Fonte: O Globo
Notícia publicada:22/07/2012
Autor:Flávia Milhorance
Pesquisadores americanos vêm trabalhando no desenvolvimento de mais uma arma contra o tabagismo: uma vacina genética que pode suprimir o desejo por cigarro impedindo a nicotina de chegar ao cérebro.
A pesquisa publicada na revista “Science Translational Medicine” foi vista com bons olhos pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A proposta da equipe de cientistas do Weill Cornell Medical College, em Nova York, foi injetar um vírus num camundongo viciado em nicotina para que ele produzisse anticorpos, os quais, posteriormente, foram jogados na corrente sanguínea.
Nos testes, os anticorpos bloquearam 83% da nicotina antes que ela ultrapassasse as membranas do cérebro.
— Pode ser interessante. A ideia da vacina é fazer com que haja um anticorpo acoplado à molécula da nicotina e, com isso, impeça que ela chegue ao cérebro. Hoje esta molécula ultrapassa a barreira porque é muitíssimo pequena. A nicotina é responsável pela liberação da endorfina, substância do prazer. Este processo, portanto, impediria que o cigarro fosse prazeroso — afirmou o pneumologista da Área de Controle do Tabagismo do Inca, Ricardo Henrique Meirelles.
A ideia seria utilizar futuramente a vacina para imunizar crianças contra o vício.
Esta perspectiva, no entanto, é de longo prazo, já que somente daqui a dois anos ela deverá ser testada em humanos.
Enquanto isto, acompanhamento psicológico e medicamentoso são as principais formas de tratamento contra o tabagismo. Os medicamentos mais usados são os de pequenas doses de nicotina, que podem estar em forma de adesivo, pastilha, goma de mascar, spray nasal e inalador.
— Em média, um maço (ou 20 cigarros) libera cerca de 200 miligramas de nicotina para o organismo. O adesivo, por exemplo, libera inicialmente 21 miligramas da substância química num período de 24 horas, e depois as doses vão sendo reduzidas. Já as gomas e pastilhas ajudam a aliviar a fissura da crise de abstinência — explicou Meirelles.
O pneumologista lembra que além da nicotina, o cigarro tem cerca de 4.700 substâncias tóxicas, entre elas, o monóxido de carbono e o alcatrão.
Cerca de 55% dos ex-fumantes voltam ao vício A recaída de ex-fumantes está em torno de 55%. O índice é considerado alto pelo especialista, que aponta fatores emocionais e o mal-estar da crise de abstinência como os principais motivos para a volta ao vício. Meirelles ressalta que os medicamentos nicotínicos ajudam a aliviar a crise, que dura, em média, de um a dois meses, e normalmente gera sintomas como irritabilidade, depressão, dor de cabeça e tontura.
Mesmo assim, ele afirma que o tratamento contra o tabaco deve incluir mudanças comportamentais.
— Com remédio, a crise se torna mais branda. Mas o mais importante é aprender a se controlar. O medicamento vai fortalecer o fumante, vai fazer com que ele fique mais seguro para poder botar em prática a mudança de comportamento.
Exercícios físicos e alimentação mais saudável ajudam bastante — ressaltou.
Números e fatos sobre o vício
MALEFÍCIOS: Morre em média uma pessoa por minuto no Brasil devido a doenças causadas pelo tabagismo, segundo o Ministério da Saúde.
São, ao todo, cerca de 200 mil pessoas por ano. Apenas em 2012, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 37% dos casos de câncer do país estarão relacionados ao cigarro.
O Inca mostra ainda que o vício é responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença coronariana, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por doença cerebrovascular.
No mundo, o tabagismo é a principal causa de morte evitável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outras doenças comuns causadas pelo cigarro são aneurisma arterial, trombose vascular, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias e impotência sexual no homem.
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS: A cada tragada, a fumaça do cigarro é inalada para os pulmões, levando cerca de 4.700 substâncias tóxicas ao organismo, frisa o Inca. A principal delas é a nicotina, considerada pela OMS uma droga psicoativa que causa dependência. A nicotina chega em 9 segundos ao cérebro e age no sistema nervoso central, liberando dopamina, substância que dá a sensação de prazer. O efeito dura de 30 minutos a duas horas, por isso o fumante recorre a vários cigarros durante o dia. Outra substância é o monóxido de carbono (CO): o mesmo que sai do cano de escapamento dos carros e que é responsável por reduzir a oxigenação sanguínea no corpo.
Além disso, o alcatrão, um composto de mais de 40 substâncias cancerígenas, entre elas, o arsênio e resíduos de agrotóxicos.
DEPENDÊNCIA: Há três tipos de dependência do cigarro: física (da nicotina), psicológica e comportamental.
No caso da psicológica, o cigarro está associado às emoções: “são bengalas para lidar com emoções, com solidão, com estresse”, afirma a psicóloga Daniela Faertes. A comportamental refere-se aos hábitos associados a fumar: depois das refeições, junto com o café ou com o álcool. O tratamento psicoterápico treina a habilidade para lidar com estes tipos de dependência. Não há dose segura para controlar o vício, costumam dizer especialistas. Portanto, não há dose segura para não se tornar dependente, nem para voltar a fumar com menos intensidade.
Um cigarro para o reincidente pode ser suficiente para reavivar o vício.
PARAR DE FUMAR: O mais importante é escolher uma data para ser o primeiro dia sem cigarro, recomenda o Ministério da Saúde. Este dia não precisa ser um dia de sofrimento.
É possível fazer dele uma ocasião especial e é aconselhável programar algo que dê prazer para se distrair e relaxar. Há duas formas de largar o cigarro: a parada imediata, recomendada pelos órgãos de saúde; ou a parada gradual, ou seja, a redução gradual do número de cigarros. Este segundo processo não deve levar mais do que duas semanas.
BARREIRAS: Síndrome de abstinência, medo de fracassar, dificuldade de lidar com a ansiedade e com o estresse são algumas das principais barreiras para parar de fumar.
Entre as mulheres, o ganho de peso é um temor constante e atinge cerca de 48% das fumantes, segundo a psicóloga Daniela Faertes. O periódico British Medical Journal (BMJ) apontou que o receio realmente tem fundamento: fumantes engordam, em média, entre quatro e cinco quilos no primeiro ano sem cigarro. Mas a psicóloga explica que controlar a ansiedade e fazer exercícios pode quebrar este paradigma. Medicamentos e ajuda profissional também ajudam na crise.
DISTRAIR O VÍCIO: Chupar gelo, escovar os dentes a toda hora, beber água gelada ou comer uma fruta distraem quem tem vontade de fumar, recomenda o Ministério da Saúde. Manter as mãos ocupadas com um elástico ou pedaço de papel também ajuda. A vontade de fumar não dura mais do que alguns minutos. Outra dica é guardar o dinheiro que se gastaria com o cigarro e utilizá-lo em presentes para si próprio ou colocá-lo na poupança.
RESULTADOS: Parar de fumar pode trazer benefícios imediatos ao organismo.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal; após duas horas, não há mais nicotina no sangue; após oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza; após dois dias, o olfato e o paladar ganham sensibilidade; após três semanas, a respiração fica mais fácil e a circulação sanguínea melhora; após dez anos, o risco de sofrer infarto do coração será igual ao de quem nunca fumou, e o risco de desenvolver câncer de pulmão cai à metade.
ECONOMIA: O Brasil gastou em 2011 cerca de R$ 21 bilhões no tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, valor equivalente a 30% do orçamento do Ministério da Saúde nesse período. O dado é da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT).
Além disso, o tabagismo gera uma perda mundial de US$ 200 bilhões por ano, sendo que a metade nos países em desenvolvimento. Este valor, calculado pelo Banco Mundial, é o resultado da soma de fatores, como o tratamento das doenças relacionadas ao tabaco, mortes de cidadãos em idade produtiva, maior índice de aposentadorias precoces, aumento no índice de faltas ao trabalho e menor produtividade.
Notícia publicada:22/07/2012
Autor:Flávia Milhorance
Pesquisadores americanos vêm trabalhando no desenvolvimento de mais uma arma contra o tabagismo: uma vacina genética que pode suprimir o desejo por cigarro impedindo a nicotina de chegar ao cérebro.
A pesquisa publicada na revista “Science Translational Medicine” foi vista com bons olhos pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A proposta da equipe de cientistas do Weill Cornell Medical College, em Nova York, foi injetar um vírus num camundongo viciado em nicotina para que ele produzisse anticorpos, os quais, posteriormente, foram jogados na corrente sanguínea.
Nos testes, os anticorpos bloquearam 83% da nicotina antes que ela ultrapassasse as membranas do cérebro.
— Pode ser interessante. A ideia da vacina é fazer com que haja um anticorpo acoplado à molécula da nicotina e, com isso, impeça que ela chegue ao cérebro. Hoje esta molécula ultrapassa a barreira porque é muitíssimo pequena. A nicotina é responsável pela liberação da endorfina, substância do prazer. Este processo, portanto, impediria que o cigarro fosse prazeroso — afirmou o pneumologista da Área de Controle do Tabagismo do Inca, Ricardo Henrique Meirelles.
A ideia seria utilizar futuramente a vacina para imunizar crianças contra o vício.
Esta perspectiva, no entanto, é de longo prazo, já que somente daqui a dois anos ela deverá ser testada em humanos.
Enquanto isto, acompanhamento psicológico e medicamentoso são as principais formas de tratamento contra o tabagismo. Os medicamentos mais usados são os de pequenas doses de nicotina, que podem estar em forma de adesivo, pastilha, goma de mascar, spray nasal e inalador.
— Em média, um maço (ou 20 cigarros) libera cerca de 200 miligramas de nicotina para o organismo. O adesivo, por exemplo, libera inicialmente 21 miligramas da substância química num período de 24 horas, e depois as doses vão sendo reduzidas. Já as gomas e pastilhas ajudam a aliviar a fissura da crise de abstinência — explicou Meirelles.
O pneumologista lembra que além da nicotina, o cigarro tem cerca de 4.700 substâncias tóxicas, entre elas, o monóxido de carbono e o alcatrão.
Cerca de 55% dos ex-fumantes voltam ao vício A recaída de ex-fumantes está em torno de 55%. O índice é considerado alto pelo especialista, que aponta fatores emocionais e o mal-estar da crise de abstinência como os principais motivos para a volta ao vício. Meirelles ressalta que os medicamentos nicotínicos ajudam a aliviar a crise, que dura, em média, de um a dois meses, e normalmente gera sintomas como irritabilidade, depressão, dor de cabeça e tontura.
Mesmo assim, ele afirma que o tratamento contra o tabaco deve incluir mudanças comportamentais.
— Com remédio, a crise se torna mais branda. Mas o mais importante é aprender a se controlar. O medicamento vai fortalecer o fumante, vai fazer com que ele fique mais seguro para poder botar em prática a mudança de comportamento.
Exercícios físicos e alimentação mais saudável ajudam bastante — ressaltou.
Números e fatos sobre o vício
MALEFÍCIOS: Morre em média uma pessoa por minuto no Brasil devido a doenças causadas pelo tabagismo, segundo o Ministério da Saúde.
São, ao todo, cerca de 200 mil pessoas por ano. Apenas em 2012, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 37% dos casos de câncer do país estarão relacionados ao cigarro.
O Inca mostra ainda que o vício é responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença coronariana, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por doença cerebrovascular.
No mundo, o tabagismo é a principal causa de morte evitável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outras doenças comuns causadas pelo cigarro são aneurisma arterial, trombose vascular, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias e impotência sexual no homem.
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS: A cada tragada, a fumaça do cigarro é inalada para os pulmões, levando cerca de 4.700 substâncias tóxicas ao organismo, frisa o Inca. A principal delas é a nicotina, considerada pela OMS uma droga psicoativa que causa dependência. A nicotina chega em 9 segundos ao cérebro e age no sistema nervoso central, liberando dopamina, substância que dá a sensação de prazer. O efeito dura de 30 minutos a duas horas, por isso o fumante recorre a vários cigarros durante o dia. Outra substância é o monóxido de carbono (CO): o mesmo que sai do cano de escapamento dos carros e que é responsável por reduzir a oxigenação sanguínea no corpo.
Além disso, o alcatrão, um composto de mais de 40 substâncias cancerígenas, entre elas, o arsênio e resíduos de agrotóxicos.
DEPENDÊNCIA: Há três tipos de dependência do cigarro: física (da nicotina), psicológica e comportamental.
No caso da psicológica, o cigarro está associado às emoções: “são bengalas para lidar com emoções, com solidão, com estresse”, afirma a psicóloga Daniela Faertes. A comportamental refere-se aos hábitos associados a fumar: depois das refeições, junto com o café ou com o álcool. O tratamento psicoterápico treina a habilidade para lidar com estes tipos de dependência. Não há dose segura para controlar o vício, costumam dizer especialistas. Portanto, não há dose segura para não se tornar dependente, nem para voltar a fumar com menos intensidade.
Um cigarro para o reincidente pode ser suficiente para reavivar o vício.
PARAR DE FUMAR: O mais importante é escolher uma data para ser o primeiro dia sem cigarro, recomenda o Ministério da Saúde. Este dia não precisa ser um dia de sofrimento.
É possível fazer dele uma ocasião especial e é aconselhável programar algo que dê prazer para se distrair e relaxar. Há duas formas de largar o cigarro: a parada imediata, recomendada pelos órgãos de saúde; ou a parada gradual, ou seja, a redução gradual do número de cigarros. Este segundo processo não deve levar mais do que duas semanas.
BARREIRAS: Síndrome de abstinência, medo de fracassar, dificuldade de lidar com a ansiedade e com o estresse são algumas das principais barreiras para parar de fumar.
Entre as mulheres, o ganho de peso é um temor constante e atinge cerca de 48% das fumantes, segundo a psicóloga Daniela Faertes. O periódico British Medical Journal (BMJ) apontou que o receio realmente tem fundamento: fumantes engordam, em média, entre quatro e cinco quilos no primeiro ano sem cigarro. Mas a psicóloga explica que controlar a ansiedade e fazer exercícios pode quebrar este paradigma. Medicamentos e ajuda profissional também ajudam na crise.
DISTRAIR O VÍCIO: Chupar gelo, escovar os dentes a toda hora, beber água gelada ou comer uma fruta distraem quem tem vontade de fumar, recomenda o Ministério da Saúde. Manter as mãos ocupadas com um elástico ou pedaço de papel também ajuda. A vontade de fumar não dura mais do que alguns minutos. Outra dica é guardar o dinheiro que se gastaria com o cigarro e utilizá-lo em presentes para si próprio ou colocá-lo na poupança.
RESULTADOS: Parar de fumar pode trazer benefícios imediatos ao organismo.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal; após duas horas, não há mais nicotina no sangue; após oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza; após dois dias, o olfato e o paladar ganham sensibilidade; após três semanas, a respiração fica mais fácil e a circulação sanguínea melhora; após dez anos, o risco de sofrer infarto do coração será igual ao de quem nunca fumou, e o risco de desenvolver câncer de pulmão cai à metade.
ECONOMIA: O Brasil gastou em 2011 cerca de R$ 21 bilhões no tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, valor equivalente a 30% do orçamento do Ministério da Saúde nesse período. O dado é da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT).
Além disso, o tabagismo gera uma perda mundial de US$ 200 bilhões por ano, sendo que a metade nos países em desenvolvimento. Este valor, calculado pelo Banco Mundial, é o resultado da soma de fatores, como o tratamento das doenças relacionadas ao tabaco, mortes de cidadãos em idade produtiva, maior índice de aposentadorias precoces, aumento no índice de faltas ao trabalho e menor produtividade.
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