BRASÍLIA - Documentos inéditos dos órgãos de informação detalham como a estilista Zuzu Angel, mãe do ex-militante do MR-8 Stuart Angel Jones, morto em 1971 após ter sido preso nas dependências da Aeronáutica, no Rio, era perseguida e monitorada no Brasil e até no exterior por arapongas do regime militar. Zuzu morreu em março de 1976, num acidente automobilístico. Em 1998, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, então vinculada ao Ministério da Justiça, reconheceu a responsabilidade do Estado na morte da estilista. Os novos documentos serão encaminhados pelo Arquivo Nacional à Comissão da Verdade.
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Um informe do Estado Maior do Exército, de fevereiro de 1972, foi categórico: “Seria conveniente que sua saída do Brasil fosse comunicada a fim de que elementos amigos pudessem acompanhar mais de perto seus passos” — registrou o documento militar, repassado a todas as unidades de inteligência, e que foram abertos agora no Arquivo Nacional. Zuzu era estilista e viajava com frequência a Nova York para expor seus modelos. A luta de Zuzu para descobrir o paradeiro de Stuart é conhecida. Já foi retratada em filme e na música popular. Mas é a primeira vez que surgem registros oficiais sobre sua rotina naquele período.
— Não tinha conhecimento desses documentos oficiais. Extraoficialmente, evidentemente, tínhamos conhecimento. Vivemos isso como uma realidade. Mamãe sabia que era seguida, vigiada. O surgimento dos documentos é um detalhe, porque para nós era real. É uma complementação dos fatos — disse a jornalista Hildegard Angel, filha de Zuzu e irmã de Stuart, que recebeu esses documentos enviados pelo GLOBO.
Havia extrema preocupação dos militares com a denúncia no exterior do desaparecimento de Stuart, que era filho de americano. Na véspera de um desfile, em setembro de 1971 nos Estados Unidos, a Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores fez um relato longo ao Centro de Informações do Exército (CIE) que Zuzu não pretendia provocar “qualquer perturbação da boa ordem da cerimônia”. De qualquer maneira, o Itamaraty alertou o Consulado Geral de Nova York, recomendando-lhe averiguar diretamente as “intenções da senhora Zuzu Angel”.
Os militares acreditavam que Zuzu Angel, no exterior, iria manter uma linha de total discrição e que sequer usaria o microfone durante o desfile para a apresentação de praxe. Com receio, chegaram a pensar em cancelar o evento, mas ficaram com receio da repercussão. “Exclui-se a possibilidade de um cancelamento da promoção, o que poderia ser sumamente embaraçoso, dando destaque proporcional a um acontecimento destinado a se diluir no setor empresarial próprio”.
Três versões para a morte de Stuart Angel
Encerrada a apresentação da coleção, o Consulado Geral em Nova York expediu telegrama ao Ministério das Relações Exteriores: “O desfile de Zuzu Angel realizou-se com sucesso e sem que nenhum incidente perturbasse a boa marcha dos acontecimentos. O tema da coleção foi pássaros tropicais, sem qualquer conotação de outra natureza...Inexistiu, quer para o público quer para a imprensa especializada que compareceu, qualquer ligação com acontecimentos extra-desfile”.
Em outro documento, o SNI avalia que Zuzu Angel, convencida de que Stuart havia sido assassinado, teria decidido usar o desfile nos Estados Unidos para denunciar o fato. “Após a epigrafada tomar conhecimento da morte de seu filho, que teria ocorrido em face de um choque havido entre subversivos e a polícia, e não acreditando no fato, deliberou fazer um desfile de modas nos Estados Unidos. O referido desfile teria a finalidade de causar um grande impacto naquele país e em outras partes do mundo, pois os motivos dos trajes eram tanques, fuzis, metralhadoras”, disse o informe.
No extrato de documentos elaborados pela Abin, nos anos 90, que são resumos para sua base de dados, aparecem três versões para o destino de Stuart. Pela primeira vez, foi admitida hipótese da tortura num dos relatos. “Stuart desapareceu havendo indícios de ter sido torturado pela polícia da FAB”. Ele ficou preso nas instalações da Base Aérea do Galeão. A segunda versão: “a morte de seu filho teria ocorrido em face de um choque havido entre subversivos e a polícia”. A terceira versão dizia que era foragido da Justiça.
Num dos informes, de março de 1973, o SNI trata de infiltração comunista no GLOBO, onde trabalhava Hildegard Angel, apresentada como alguém com “manifestas simpatias esquerdistas”. Relato do general Tasso Vilar de Aquino diz que os postos-chave no jornal eram ocupados por comunistas notórios e cita o jornalista Evandro Carlos de Andrade, então editor-chefe. “Os profissionais do O GLOBO que não sejam esquerdistas ou que não se sujeitem a situação de inocentes úteis são afastados, qualquer que seja o tempo de serviço no jornal, e substituídos por aliados de Evandro”.
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