(Renata Cafardo)
Mais da metade dos jovens brasileiros não pratica atividades físicas. Pesquisa realizada pela Unesco com 10 mil moças e rapazes do País, entre 15 e 29 anos, mostra ainda que o problema se agrava entre os que têm baixa escolaridade. Muitos deles declaram não ter sequer interesse por esportes.
"A gente imagina que todo menino pelo menos joga uma pelada no campinho, mas não é bem assim", diz a pesquisadora da Unesco Miriam Abramozay. Segundo ela, políticas públicas para esportes ainda são recentes no País e pouco se sabe da importância da atividade física para a educação, saúde e inclusão social. Com o objetivo de discutir melhor a questão, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2005 como o Ano do Esporte e da Educação Física.
O estudo, cujas respostas foram coletadas no segundo semestre de 2004, mostra que o envolvimento com atividades físicas cresce conforme a escolaridade dos jovens. Entre os que estudaram até a 4.ª série, 35% praticam algum tipo de esporte. Entre 5.ª e 8.ª série, o índice passa para 45%. Sobe para 47% entre os que cursaram o ensino médio. O índice permanece semelhante no ensino superior.
Para o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz - que diz não ter se surpreendido com os resultados da pesquisa -, a maneira de mudar esse quadro é investir na escola. Segundo ele, metade das 180 mil escolas públicas do País não tem quadra esportiva. "É preciso investir nisso agora para não precisar investir depois em presídios e hospitais", diz o ministro.
Em parceria com o Ministério da Educação (MEC), o Ministério do Esporte lançou o programa Segundo Turno, que atinge 800 mil jovens atualmente e incentiva a prática esportiva depois do horário de aulas, em escolas ou outras instituições. Os primeiros resultados mostram queda da evasão nessas escolas e melhora no rendimento dos alunos participantes. Segundo um relatório da ONU intitulado Esporte para o Desenvolvimento e a Paz, estudos feitos com crianças entre 6 e 12 anos que praticam pelo menos cinco horas por semana de atividades físicas mostram que elas têm notas melhores do que aquelas que são ativas por menos de uma hora.
A pesquisa feita no Brasil demonstra que a freqüência de prática esportiva é menor entre jovens de classes sociais mais baixas. Muitos deles o fazem nos fins de semana (23%) e outros apenas uma vez (23%) ou duas vezes por semana (21%). Entre os pertencentes às classes A e B, 31% fazem esportes quatro vezes por semana. Também é nítida a diferença entre os que estudam e os que não estudam. No primeiro grupo, mais de 50% fazem atividades físicas; no segundo, são 37%. É aí, segundo especialistas, que mais uma vez aparece a importância da escola, já que as opções de lazer e esportes são restritas nas comunidades carentes.
EDUCAÇÃO FÍSICA
O que impressiona na pesquisa é o fato de 57% dos jovens terem afirmado não praticar qualquer atividade esportiva, mesmo existindo a obrigatoriedade da aula de educação física nas escolas. As justificativas que mais aparecem para o sedentarismo são a falta de tempo (37%) e o não interesse por atividade física (36%). "A educação física perdeu o seu valor. Há professores que vão lá, dão uma bola e pronto", reclama o presidente do Conselho Regional de Educação Física e diretor do núcleo de saúde da UniFMU, Flavio Delmanto.
Segundo o ministro Queiroz, as ações do governo incluem capacitação e valorização do profissional de educação física, mas ainda não foram postas em prática. O ministério incentiva a introdução do xadrez nas escolas e pretende ampliar o projeto para outras atividades, como o atletismo.
O relatório da ONU menciona que a educação física é marginalizada em 126 países pesquisados, porque freqüentemente é vista como "não-produtiva e não-intelectual". A organização, no entanto, deixa claro que a "educação física é um componente chave da educação de qualidade" e que o esporte educa os jovens sobre a importância de valores como honestidade, respeito, obediência às regras, cooperação, entre outros.
O Estado de S.Paulo
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