segunda-feira, 23 de julho de 2012

Se é do Machado, então vale a pena ler - As personagens de Machado de Assis

                         
 
Que Machado de Assis é hábil em criar personagens instigantes ninguém pode negar. O leitor certamente coloca alguns dos seus personagens entre os mais celébres da Literatura nacional e até mesmo mundial.
Pensando em casais célebres, Capitu e Bentinho sempre têm um lugar de destaque. Ora, Capitu é uma mulher única e especial na Literatura, parece até que ganha vida própria e provoca no leitor reações adversas. Desde cedo sabia bem o que queria: Bentinho. O próprio Bentinho, ao escrever suas memórias, diz que ela era o lado forte da relação, aquela que sempre confiou que para os dois ficarem juntos era só uma questão de tempo e de alguns ajustes. Sim, havia a promessa, mas promessas podem ser modificadas. Havia José Dias contra a pobre vizinha, mas ele poderia ser convencido a apoiá-los. Havia o ciúme e, bem, este na verdade, não pode ser controlado. Bentinho, por sua vez, é um burguês típico, com sua mãe viúva, inúmeros escravos e agregados para mimá-lo, uma paixão e muito medo de lutar por ela. Capitu acaba "roubando" do marido o papel de protagonista do romance, e ela consegue isso numa sociedade patriarcalista, na qual a figura masculina era o centro de tudo. Os olhos de Capitu, a presença de Capitu, a forma como Capitu conquista os inimigos e os torna aliados...tudo isso torna a amada de Bentinho uma personagem marcante.
E o que dizer de Brás Cubas? O homem que, depois de morto, resolve contar a suas desventuras enquanto caminhava entre os vivos. A escolha da ocasião se deve a libertade que a morte garante, as palavras e fatos que poderiam ser narrados sem sofrer problemas com o julgo da sociedade que caminha neste mundo. Brás Cubas, como homem, é um produto do seu tempo; vive a burguesia e usufrui dela, tornando-se um homem com apenas um saldo positivo: não ter transmitido para ninguém, o legado da sua miséria.
Uma das figuras mais interessantes que povoam a obra de Machado de Assis é, sem dúvida, Quincas Borba. Mendigo, filósofo, louco, quem era Quincas Borba? Ele criou uma filosofia, aparecia de desaparecia da vida do amigo de infância Brás Cubas, deixou sua herança ao professor Rubião, (herança esta que incluía o cachorro que levava seu nome)...o professor Rubião é um dos poucos personagens de Machado de Assis que não vive de renda, mas, ao receber a fortuna de Quincas Borba, abandona tudo e vai para a Côrte, viver as alegrias da vida burguesa, alegrias estas que não poderia desfrutar na condição de trabalhador.
Sofia, a mulher cobiçada por Rubião, vive de acordo com os princípios da sociedade que Machado de Assis tanto critica. Ao notar o interesse do novo rico, Sofia e seu marido Cristiano visualizam uma bela forma de participar do desfrute daquele dinheiro vindo de forma tão inesperada. Sofia não se entrega para Rubião em nenhum momento, mas o mantêm preso na sua teia de sedução, até que não reste a ele mais nada, nem mesmo a sanidade. Quando o ex-professor está perdido nas ruas, transformando-se em motivo de riso para a mesma sociedade que antes o recebera de braços abertos, ele não serve mais para nada, deveria ser descartado, e assim aconteceu.
Temos também os gêmeos Pedro e Paulo, que brigavam ainda no ventre da sua mãe (assim como os personagens bíblicos Esaú e Jacó, que dão título ao romance), sendo opostos em tudo, menos no amor pela jovem Flora. Clichê? Não na obra de Machado de Assis, que construiu os personagens sem estereótipos de vilania ou heroísmo, sem a oposição do bem e do mal.
E o comandante Aires? Seria ele o próprio Machado de Assis transpondo-se para as páginas de um livro? Muitos afirmam que sim, pois o "Bruxo dos Cosme Velho", assim como Aires, observava o mundo, a sociedade e apresentava suas impressões e fazia isso com maestria.
Mas não são apenas nos romances que Machado de Assis foi mestre em criar personagens. Ele, como exímio contista, criou personagens interessantes e marcantes, como Simão Bacamarte, o médico alienista que descobria a loucura numa cidade inteira, percebendo depois que a loucura era toda sua.
Fortunato, personagem do conto "A causa secreta", procurava de todas as formas saciar seu desejo de ver e degustar o sofrimento alheio. As noites na cabeceira dos feridos e da prória esposa, a ajuda aos doentes, tudo era apenas um pretexto para saciar o seu sadismo, aliado ao masoquismo que o faz sentir um prazer imenso em ver o amigo beijando a sua esposa morta.
Temos também o Pestana, compositor de polcas populares que buscava a imortalidade dos grandes músicos clássicos. O pobre Pestana morreu vendo suas músicas serem cantadas por populares e esquecidas num breve espaço de tempo.
Na tradição de mulheres misteriosas de Machado de Assis, temos a Dona Conceição, de "Missa do galo". Estaria ela se insinuando para o jovem amigo da família ou era tudo produto da imaginação e da malícia daquele rapaz?
Voltando aos romances, temos a obra romântica de Machado de Assis, da qual saltam alguns personagens muito interessantes, que anunciavam a "era" realista que estava por vir na produção do escritor.
Félix, de "Ressurreição" é um deles. Com um coração sepultado há muito tempo, Félix acredita poder ressucitá-lo amando a viúva Lívia. Instável emocionalmente e preso ao ciúme (anunciava ou não um outro personagem de Machado de Assis que viria em "Dom Casmurro"?), Félix fracassa na tentativa de "Ressurreição" e acaba deixando-o sepultado mesmo.
Uma mulher muito interessante entre as "românticas" do escritor, é Helena, personaegem que dá título a um dos romances desta fase.
Mesmo sabendo-se não merecedora da forturna do suposto pai, o Conselheiro Vale, ela vai viver na casa do filho do Conselheiro e permite que todos acreditem nos seus laços sanguíneos com a Família Vale. Apaixonada pelo "irmão", Helena entrega-se à morte, já que se sente indigna do amor de Estácio por ter falhado com a verdade. Como muitas mulheres, Helena faz um julgamento feroz das suas atitudes e condena a si própria por elas.
Estes são apenas alguns dos personagens marcantes da obra do grande Machado de Assis. Pretender fazer uma análise monuciosa de todos os personagems criados com maestria por Machado de Assis seria uma audácia minha.
 
 
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