Ao se dedicar à construção de cidadania em sala de aula, o professor precisa trazer aos alunos temas fora das disciplinas em questão. Discutir, de modo claro e sem medo, racismo, discriminação e preconceito é um bom caminho para fazer daqueles indivíduos agentes de transformação.
Com esse objetivo, passei a acrescentar às minhas aulas a temática trazida pela Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o conteúdo de História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas públicas e particulares do ensino fundamental e médio. Nesta perspectiva, músicas e textos de compositores africanos ou afrodescendentes passaram a servir de base para a produção de texto dos alunos, tais como: Oswaldo de Camargo, Solano Trindade, Leônidas de Paiva, José Craveirinha, Castro Alves, Chico César. Essa etapa de elaboração de material foi resultado de pesquisa individual realizada na internet e em literatura especializada, como Cadernos Negros.
O que eu queria fazer a partir deste material que fui coletando era construir uma visão bem sucedida e realista sobre a população negra. De modo que em todas as aulas nós escutávamos a música, fazíamos uma leitura e reflexão sobre ela e, além disso, líamos um outro texto – só que desta vez do gênero textual que iríamos trabalhar em classe. Por exemplo: se íamos produzir textos poéticos, líamos poesias, etc. No final, os alunos conseguiam juntar as duas experiências.
A ideia é a de permitir a compreensão sobre as raízes históricas da população negra, buscando refletir, discutir, conhecer, ler e escrever, atentando para não reproduzir a ideia de inferioridade da África, dos africanos e dos negros brasileiros. Dessa maneira, o professor vai conversando sobre a formação, resistência e luta da população negra ao longo dos séculos.
Também já usei em sala outrasestratégias para integrar conhecimentos: trabalho com gravuras que estimulam a percepção visual dos alunos; incentivo à confecção de receitas de comida afro-brasileiras; apresentação de anedotas e piadas; criação e impressão de histórias em quadrinhos.
Ao aproximarmos os alunos do conteúdo legal, informando-os sobre a formação, resistência e luta da população negra, buscamos promover o desenvolvimento de valores e atitudes nos alunos, além de despertar o prazer da escrita, utilizando os procedimentos de leitura e audição. Assim, os auxiliamos a superar conflitos e a exercer de fato a cidadania, à medida que questionam e transformam sua realidade. Propomos uma educação de combate a discriminações fazendo com que os estudantes sejam capazes de refletir, discutir, conhecer, ler e escrever sobre si, em busca da promoção da justiça social, cidadania e igualdade.
*Denise Maria Soares Lima éprofessora de Língua Portuguesa em turmas de sexto e sétimo ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Brasília, DF.
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