RIO - Escolhida como protagonista de “Gabriela, cravo e canela”, trama dirigida por Maurício Sherman para a TV Tupi, em 1961, Jannette Vollu foi a primeira mulher a interpretar a sensual personagem de Jorge Amado no vídeo. Mas foi a atriz Sonia Braga quem entrou para a História ao dar vida à retirante criada pelo autor baiano, na marcante novela de 1975. A cena em que a personagem enlouquece a Ilhéus dos anos 1920 ao subir no telhado para resgatar uma pipa tornou-se um clássico da TV. Refeita agora com Juliana Paes, a sequência foi exibida na semana passada no remake assinado por Walcyr Carrasco para a atual faixa das 23h, da Globo.
— Eu mesma me surpreendo com a química daquele momento. Alguma coisa aconteceu naquele dia — diz hoje Sonia Braga. — Eram outros tempos. A gente era hippie. Não existia alisamento ou chapinha. A novela devolveu um pouco da identidade da mulher brasileira.
Mas Sonia defende a relevância dos romances do autor ainda hoje.
— O nosso Shakespeare é Jorge Amado. E, mais que no teatro ou no cinema, foi na TV que suas obras puderam ser vistas pelas multidões. Espero que não demore tanto para termos outros títulos dele na tela. Jorge lança um olhar carinhoso para o povo brasileiro.
A atriz acompanha a nova versão de “Gabriela” e crê, de alguma forma, fazer parte da produção.
— O que todo mundo vê como um remake, para mim é um flashback. Vejo tudo com uma perspectiva que só eu tenho. As pessoas me param na rua para comentar. É bem estranho. Alguns papéis são importante para a sua carreira. Esse foi para a minha vida.
É fácil ouvir essa afirmação de uma atriz que já viveu uma personagem de Jorge. Betty Faria, a Tieta da novela escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares para a Globo em 1989, diz que a trama — recém-lançada em DVD — marcou sua carreira.
— As adaptações dos romances de Jorge Amado têm um apelo muito popular. Sinto que seus personagens são muito verdadeiros — observa Betty.
Diretor da “Gabriela” de 2012, Mauro Mendonça Filho também defende que a escrita de Jorge ainda é atual.
— “Gabriela” é um dos livros mais políticos, mesmo com o nome de uma mulher no título. Isso porque não deixa de ser política a história de Gabriela. A visão do Walcyr sobre a obra é feminina. Mas o mundo ainda é dos homens, o coronelismo ainda existe, por exemplo. Jorge nunca foi ingênuo. Certas obras você transpõe para a TV e a TV é que é ingênua, não a obra. Ele sempre tem a visão mais à frente do tempo. A TV impõe certos limites, mas essa obra ainda é ousada.
Fã do autor de “Gabriela”, Carrasco buscou no livro, e não na adaptação feita por Walter George Durst para a novela de 1975, a inspiração para a sua trama. O novelista garante que a maior pressão ao escrever uma nova versão de uma obra tão conhecida vem dele mesmo.
— Eu não pensei na expectativa criada por essa nova versão, mas na minha responsabilidade artística para com um grande autor — explica.
A sensualidade e força das mulheres e as relações de poder são temas recorrentes do autor, que já teve obras adaptadas para a TV em diferentes formatos. “Terras do sem fim” ganhou duas versões: um folhetim para a TV Tupi, em 1966, e outro para a Globo, em 1981. “A morte e a morte de Quincas Berro D’água” foi transformada em telenovela pela Tupi, em 1968, e exibida na faixa “Caso especial” pela Globo, em 1978.
“Tenda dos milagres” virou minissérie da Globo, em 1985, pelas mãos de Aguinaldo Silva. “Tereza Batista” e “Dona Flor e seus dois maridos” também foram adaptadas para o mesmo formato pela emissora em 1992 e 1998, respectivamente. A primeira foi protagonizada por uma então desconhecida Patrícia França. A segunda trouxe Giulia Gam como a cozinheira dividida entre o farmacêutico Teodoro e o malandro Vadinho.
Na Band, “Capitães da areia” também foi transformada em minissérie, no ano de 1989. Em 1995, “Tocaia grande” rendeu uma novela na Manchete. Com 236 capítulos, a trama teve direção geral de Walter Avancini, também responsável pela condução de “Gabriela” em 1975. Adaptação dos livros “Mar morto” e “A descoberta da América pelos turcos”, a novela “Porto dos milagres”, de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, fez sucesso em 2001, na Globo
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