domingo, 1 de julho de 2012

Te Contei, não ? - Olímpicos do conhecimento

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Por uma medalha, o jovem Rodrigo Sanches, 16 anos, passa todas as tardes enfurnado em uma sala treinando, e, uma vez por mês, cruza os 870 quilômetros que separam São Paulo de Brasília para encontrar os outros cinco integrantes da equipe que representam com ele o Brasil no Exterior. Rodrigo é estudante olímpico e, assim como os esportistas profissionais, dedica grande parte de seu tempo e sua energia às competições. A rotina puxada já rendeu frutos. Ele ganhou ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática em 2011 e, neste ano, dois bronzes em competições internacionais – na Romênia e no Torneio Ibero-Americano. O próximo desafio é a Olimpíada Internacional de Matemática, prova mais importante na área, que acontece no próximo mês, na Argentina. Quem vê o aluno do segundo ano do Ensino Médio imerso em livros e exercícios não imagina que o envolvimento é recente. “Já tinha ouvido falar, mas achava meio fora da minha realidade”, diz. A entrada no mundo das competições de conhecimento aconteceu em 2010, após mudar para uma escola onde os alunos são incentivados a competir – hoje, vários colégios particulares têm salas especiais para treinar os estudantes e dão bolsas para os medalhistas.

No Ministério da Educação, o tema também começa a ganhar destaque. Nos gabinetes do órgão se discute uma grande olimpíada de conhecimentos para a rede pública, prevista para 2013. Os planos se justificam. Ano a ano, mais estudantes participam dos torneios científicos, que são cada vez mais numerosos – de 2005 até agora, surgiram cinco novas competições nacionais. Só a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, uma das mais concorridas, deve chegar à marca de um milhão de participantes na próxima edição e terá a primeira prova internacional no Brasil. A Olimpíada de Matemática, a mais antiga do País, criada em 1979, pulou de 40 mil estudantes, em 1998 (primeiro ano em que houve contagem oficial), para 190 mil na última edição. Fazer a etapa nacional é pré-requisito para participar das competições internacionais, que reúnem os melhores de cada país. “Os alunos estão descobrindo que ter uma medalha em uma olimpíada internacional é um dos principais cartões de visita para se entrar em universidades estrangeiras”, afirma Ronaldo Fogo, coordenador de turmas olímpicas do Colégio Objetivo, em São Paulo. Renato Pinto Júnior, 17 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio, é um dos olímpicos que flerta com a faculdade no Exterior. No currículo, dois bronzes na Olimpíada Internacional de Informática e um ouro na Internacional de Robótica (feito inédito para o Brasil) fazem dele um forte candidato. “Na Olimpíada você encontra os melhores de cada país e em alguns lugares, como a Rússia, os Estados Unidos, a China, o Japão e a Coreia do Sul, os alunos começam a estudar programação muito cedo. Por isso, sempre se destacam”, diz. Situação bem distinta da brasileira, na qual a maior parte dos alunos mal tem computador na escola.

A precariedade de recursos é um dos grandes empecilhos na realização desses eventos no Brasil. Se por um lado essas competições estão cada vez mais no gosto dos alunos, por outro seguem à míngua quando o assunto é dinheiro. “Não aguento mais ficar com o pires na mão”, diz Leila Macedo, presidente da Associação Nacional de Biossegurança, instituição responsável pela Olimpíada Brasileira de Biologia. O evento começou em 2005 e já trouxe 18 medalhas internacionais para o País. Mesmo assim, dos R$ 150 mil pedidos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), apenas R$ 50 mil foram aprovados. O resultado é que não há dinheiro para pagar a ida da comitiva brasileira ao torneio internacional, no próximo mês, em Singapura. Mesma reclamação é feita pela organização da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. “Ter quase um milhão de alunos é uma beleza, mas o gasto médio por participante é de R$ 1,50 e o CNPq autorizou apenas R$ 500 mil”, afirma o coordenador, João Batista Canalle.

No MCT, os protestos por mais verba são conhecidos. “A crítica tem razão de ser, mas nós triplicamos o montante disponível para esse tipo de evento”, diz Ildeu Moreira, diretor do departamento de popularização e difusão de ciência e tecnologia do MCT, citando os R$ 3 milhões do governo federal para financiar olimpíadas e feiras de ciências em 2012. Todo o montante, porém, corresponde a menos de um terço do valor gasto por ano pelo Itaú Social apenas com a Olimpíada de Língua Portuguesa, voltada para um público de sete milhões de estudantes. A situação precária da maior parte dos torneios remete ao drama, velho conhecido dos medalhistas esportivos: sobra apoio no discurso, mas a carteira segue vazia.
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Revista Isto É

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